A poluição do ar se tornou uma das maiores ameaças à saúde humana no planeta. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), ela representa atualmente o maior risco ambiental para nossa saúde, sendo responsável por cerca de 6,5 milhões de mortes prematuras anualmente em todo o mundo. E os números podem piorar drasticamente se não agirmos rapidamente.

O perigo invisível que respiramos todos os dias

As minúsculas partículas poluentes são verdadeiros invasores silenciosos. Elas penetram em nosso corpo através da respiração, chegam aos pulmões e entram na corrente sanguínea, causando uma série de problemas graves: asma, doenças respiratórias crônicas e até mesmo acidentes vasculares cerebrais (AVC).
A situação é tão crítica que, se não houver uma intervenção agressiva, a ONU projeta que o número de mortes causadas pela poluição do ar em espaços abertos deve aumentar em mais de 50% até 2050. Além dos impactos na saúde, a poluição atmosférica agrava os efeitos das mudanças climáticas, causa perdas econômicas significativas e reduz a produtividade agrícola.

O ranking mundial da poluição: onde estão as cidades mais perigosas

Para entender melhor esse cenário global, a organização suíça IQAir, especializada em tecnologia contra a poluição do ar, publica anualmente um Relatório sobre a Qualidade do Ar Mundial. O estudo de 2024 analisou dados de 8.954 cidades em 138 países, utilizando informações de mais de 40 mil estações de controle da qualidade do ar.

O relatório foca nas partículas PM2,5 – aquelas com diâmetro igual ou inferior a 2,5 micrômetros, que representam a maior ameaça à saúde humana. Os resultados revelam um panorama preocupante, especialmente na Ásia.

A cidade mais poluída do mundo

Byrnihat, na Índia, conquistou o triste título de área metropolitana mais poluída do mundo em 2024, com uma concentração média anual de PM2,5 de 128,2 microgramas por metro cúbico (μg/m³). Para ter uma ideia da gravidade, esse valor excede em mais de 25 vezes o valor recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 5 μg/m³.
As 10 cidades com o ar mais tóxico
O ranking das cidades mais poluídas do mundo em 2024 mostra uma concentração preocupante na Ásia:
  1. Byrnihat, Índia – 128,2 μg/m³
  2. Delhi, Índia – 108,3 μg/m³
  3. Karagandá, Cazaquistão – 104,8 μg/m³
  4. Mullanpur, Índia – 102,3 μg/m³
  5. Lahore, Paquistão – 102,1 μg/m³
  6. Faridabad, Índia – 101,2 μg/m³
  7. Dera Ismail Khan, Paquistão – 93 μg/m³
  8. N’Djamena, Chade – 91,8 μg/m³
  9. Loni, Índia – 91,7 μg/m³
A análise revela que cinco dos dez países mais poluídos e nove das dez cidades com pior qualidade atmosférica estão localizados na Ásia. Um dado alarmante é que quase um terço das cidades mundiais registraram concentrações anuais de PM2,5 que excedem em dez vezes as diretrizes da OMS.
Os raros oásis de ar limpo
Em contraste com esse cenário sombrio, apenas 12 países, regiões e territórios conseguiram registrar concentrações de PM2,5 abaixo da diretriz da OMS em 2024. A maioria desses locais está localizada na América Latina, Caribe ou Oceania.
Mayagüez, em Porto Rico, conquistou o título de área metropolitana com o ar mais limpo de 2024, com uma concentração média anual de PM2,5 de apenas 1,1 μg/m³ – cinco vezes menor que o recomendado pela OMS.

Na América Latina e Caribe, sete países e territórios registraram concentrações abaixo do valor recomendado: Granada, Barbados, Montserrat, Porto Rico, Ilhas Virgens Americanas, Bahamas e Bermudas.

Como está o Brasil neste cenário preocupante

O Brasil não escapou da tendência de piora na qualidade do ar. Segundo o relatório da IQAir, o país teve um dos maiores aumentos na concentração média anual de PM2,5 na América Latina, com um incremento de 2,3 μg/m³ em 2024 – empatado com o Equador nesse triste ranking.
As principais causas da poluição brasileira
As principais fontes de poluição atmosférica no Brasil e na América Latina incluem:
  • Desmatamento: especialmente na Amazônia e Cerrado
  • Incêndios florestais: que se intensificaram dramaticamente em 2024
  • Emissões veiculares: principalmente em grandes centros urbanos
  • Indústrias extrativas: mineração e petróleo
A situação ficou particularmente crítica durante agosto de 2024, quando cidades como Brasília ficaram cobertas pela fumaça dos incêndios florestais, demonstrando como eventos climáticos extremos podem agravar rapidamente a qualidade do ar.
O panorama da América Latina
Na região latino-americana, o cenário é misto: nove países registraram aumentos na concentração de PM2,5, enquanto 13 tiveram reduções e um permaneceu inalterado. As Bahamas registraram a queda mais significativa, com redução de 2,9 μg/m³, seguidas pelo México, com diminuição de 2,6 μg/m³.
A importância do Dia Internacional do Ar Limpo
Reconhecendo a gravidade da situação, a Assembleia Geral da ONU declarou 7 de setembro como o Dia Internacional do Ar Limpo por um Céu Azul. Esta data serve como um lembrete anual da urgência em agir contra a poluição atmosférica.
O que podemos fazer para mudar esse cenário
A situação é grave, mas não irreversível. Algumas ações que podem fazer a diferença incluem:
No nível individual:
  • Usar transporte público, bicicleta ou caminhar sempre que possível
  • Escolher veículos elétricos ou híbridos
  • Reduzir o consumo de energia em casa
  • Apoiar políticas públicas de qualidade do ar
No nível governamental:
  • Implementar políticas rigorosas de controle de emissões
  • Investir em energias renováveis
  • Fortalecer o combate ao desmatamento
  • Desenvolver sistemas de transporte público eficientes
No nível empresarial:
  • Adotar tecnologias mais limpas
  • Investir em energias renováveis
  • Implementar práticas sustentáveis na produção
Um futuro respirável é possível
Os dados sobre poluição do ar são alarmantes, mas também servem como um chamado à ação. A Oceania, por exemplo, mostrou que é possível ter ar limpo: 57% das cidades da região cumpriram o valor-guia da OMS em 2024.
O Brasil e outros países da América Latina têm potencial para reverter essa tendência de piora na qualidade do ar. Com políticas públicas adequadas, investimento em tecnologias limpas e conscientização da população, podemos trabalhar para que nossas cidades saiam dos rankings de poluição e entrem na lista dos lugares com ar mais limpo do mundo.

A qualidade do ar que respiramos hoje determina a saúde das próximas gerações. É hora de agir antes que seja tarde demais.