Aparentemente pode ser simples de uma certa forma falar ou escrever sobre crescimento econômico, assim como falar sobre sustentabilidade.

Mas temos que ponderar a dificuldade de equilibrar objetivos sociais, ambientais e econômicos, em um comércio internacional cada vez mais feroz e difícil, uma vez que estamos falando de sustentabilidade de nações, empresas, economias e riqueza de seu povo. Objetivos muitas vezes controversos.

Falar de sustentabilidade como tema transversal e escrever sobre equilíbrio entre as questões sociais, ambientais e econômicas, tem sido o desafio dos países incluídos no G8 e G20 desde a década de 70 na OCDE (Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico). Na época, os primeiros guias que tinham a função de orientar as multinacionais foram publicados e temas como combate à corrupção; fraudes; propinas; a proteção ao meio ambiente, social e do emprego; a cadeia de valor como responsabilidade das multinacionais; entre outros temas, já eram profundamente discutidos.

Sustentabilidade Econômica
Foto: asianjournal

Nenhum desses aspectos nasceram no período de criação do Tripple Botton Line (conceito criado por John Elkington em 1994), como muitos acreditam. Eles foram criados a partir da visão filosófica e sistêmica da responsabilidade social das organizações, quando estas impõem valores locais e modificam valores nos países em que atuam. E obviamente, que por responsabilidade primária, as multinacionais não querem ver suas marcas e seus países envolvidos em escândalos e serem acusados por exploração regional sem cumprir o mínimo de ética e compliance local.

É também uma questão diplomática e que afeta diretamente o comércio internacional e a relação entre os países.

Como enfrentar a falta de coerência e ver uma multinacional sua envolvida em escândalo de corrupção ou poluição ambiental se estamos tratando de temas sistêmicos globais?

Nos últimos 30 anos a globalização do comércio e da produção (internacionalização) expandiu suas atividades, buscando locais mais simples de operar, encontrar matéria-prima abundante e barata (commodities). Até este aspecto, nenhum problema. Buscar formas mais competitivas de produção não é um crime por si só.

Uma empresa deve buscar sua viabilidade econômica, uma vez que a globalização dos mercados ampliou a escala de suas operações e, por consequência, seus custos aumentam nas mesmas proporções. Esse movimento foi inevitável. Era ampliar a escala, ou morrer.

A questão que deve ser analisada é: a que preço? Baratear operações ou explorar matéria-prima? Produzir de forma mais barata por intermédio de relações corruptas com o estado? Produzir praticando crimes ambientais? Em detrimento da exploração de mão de obra? Ou aberrações como a exploração de mão de obra escrava ou infantil?

Decididamente não! E ainda bem que o Brasil é um local que possui leis fortes e em constantes atualizações. O desafio é cumpri-las e fiscalizar seu cumprimento, e ainda eliminar definitivamente a corrupção ou formas de burlar essas leis. O grande desafio é o de equilibrar as exigências locais, margens de lucro, distribuição de riquezas, o equilíbrio de suas operações e assim continuar mantendo o preço competitivo. No artigo anterior vimos que Adam Smith alertou isso já em seu ensaio “Riqueza das Nações”.

Porém, vamos falar de uma obra mais recente que evoluiu sobre a “Teoria sobre o fracasso das Nações”. No Livro “Porque as Nações Fracassam”, os autores Daron Acemoglu (MIT) e James Robinson (Harvard), professores de Administração e Economia das duas novas universidades, fazem importantes atualizações na obra de Smith. Nesta obra são contemplados fatos históricos, como demonstram evidências desde o Império Romano, Veneza Medieval, União Soviética, África, Europa, EUA, China, América Latina (Argentina, Brasil, Peru, entre outros) e como essas regiões do mundo sofrem com oscilações periódicas econômicas e sociais.

O tema central dos autores aponta para o círculo vicioso dos países que se auto-alimentam da pobreza de seus povos, o charme do crescimento autoritário dos países, como quebrar o círculo de país essencialmente “explorado” que sobrevive da cultura extrativista e a necessidade imperiosa das indústrias e dos países criarem novos mercados através da inovação de produtos e serviços.

Avaliar indicadores econômicos frente aos indicadores de sustentabilidade nos dá a exata noção da qualidade dos gastos públicos e dos constantes desequilíbrios ou estagnações que vivemos a cada governo. Ter um projeto de equilíbrio econômico, social e ambiental, requer antes de tudo, muito investimento em planejamento, consultas públicas (enquanto durarem as deficiências sociais) e integração entre ministérios e secretarias Federais, Estaduais e Municipais.”

Analisando o caso brasileiro e aplicando os conceitos de sustentabilidade econômica, infelizmente ainda vemos nossa economia sofrer dos mesmos males alertados pelos autores. A todo o momento estamos ainda envolvidos em temas cíclicos viciosos que provocam o empobrecimento do país (em longo prazo) e de sua população. Confira alguns:

• Altos juros cobrados na ponta do consumo (do consumidor);

• Ciclo vicioso de juros de financiamento de sua própria dívida (e portanto, repassando à sua população);

• Reservas de commodities e de matéria-prima sendo exploradas em moedas internacionais e determinando os preços locais (inclusive ao governo-comprador);

• Escândalos de corrupção e aparelhamento político do estado e da justiça dificultando inclusive a credibilidade do governo em ofertar projetos aos investidores.

• Cultura contrária a inovação que não contempla a meritocracia individual e das instituições que criam;

• Dependência de capital externo de forma contínua;

• A dificuldade de transformar as instituições de natureza extrativista em instituições inclusivas;

• Disparo de bolhas inflacionárias localizadas e “achatamento” salarial ou perda de poder de compra;

• Perenidade de programas sociais que se tornaram “custos fixos” do governo, sem a contra partida da produção e geração de riqueza e educação;

• Baixíssimos e péssimos índices de educação, que impedem a inovação da indústria;

• Incentivo constante ao desequilíbrio das instituições públicas;

• Tentativas da retirada das propriedades privadas (ver casos do campo). O que tira o incentivo à produção e inovação e ao emprego;

• Projetos de investimentos oferecidos sem segurança jurídica, econômica e de viabilidade técnica;

• Alto custo de vida e necessidades básicas não atendidas da população: moradia, saúde, educação, segurança, emprego e renda futura de sobrevivência (aposentadoria);

• A redução dos estoques de recursos naturais e o aumento do impacto ambiental das atividades produtivas, encarecendo cada vez mais a sua recuperação (originando novos custos ao governo);

• Mercado informal de trabalho e renda, cada vez maior e incentivado pelo mercado ilegal;

• Deficiência crônicas de infraestrutura que se mostram impossíveis de vencer ou, em alguns casos, a privatização desses aparelhos de infraestrutura, encarecendo ainda mais o custo de vida;

• Sistema político caminhando para o desrespeito democrático e caminhando a uma visão míope de crescimento, o que dificulta cada vez mais a aprovação de orçamentos da União.

• Concentração de renda e de ganhos de capital sem gerar aumento de renda real ao trabalhador;

• Ausência de Indústria forte, de academia forte e de indústria própria que produza a inovação;

• Descontrole de contas públicas e repasse contínuo de aumento de impostos, e consequente custo de vida.

Enfim, os temas enumerados não se esgotam nesta lista. Mas se quisermos entender de forma simples e sob uma ótica sistêmica, o caminho equilibrado da sustentabilidade, convido ao leitor que faça um exercício de análise sistêmica e crítica, comparando o orçamento da União, Índices de Desenvolvimento Humano dos estados e cidades, e o novo projeto de indicadores de sustentabilidade das cidades.

Avaliar indicadores econômicos frente aos indicadores de sustentabilidade nos dá a exata noção da qualidade dos gastos públicos e dos constantes desequilíbrios ou estagnações que vivemos a cada governo. Ter um projeto de equilíbrio econômico, social e ambiental, requer antes de tudo, muito investimento em planejamento, consultas públicas (enquanto durarem as deficiências sociais) e integração entre ministérios e secretarias Federais, Estaduais e Municipais.

O que vemos ao longo dos anos no Brasil são constantes desencontros entres estes níveis da administração e períodos de estagnações administrativas que nos faz andar de forma lenta e, muitas vezes, não andar. Um grande desafio para os empresários que buscam a chamada estabilidade econômica e política para ampliar seus horizontes de planejamento para o Brasil. Um grande desafio para a atração do capital estrangeiro, para conquistar o sonho do pleno emprego, e para conseguirmos fazer a roda do consumo girar, sem paralisações.

E, acima de tudo, adquirir a cultura pela administração pública, de maneira profissional definitivamente, aplicando os conceitos que ensinamos nas faculdades às organizações privadas e tratar este país definitivamente como uma empresa que necessita possuir um planejamento estratégico de longo prazo.

No próximo artigo conversaremos um pouco sobre os indicadores de sustentabilidade de estados e municípios que virão por ai.

Até o próximo artigo.