Você vai ao trabalho de bicicleta, recicla o lixo de casa, descarta o óleo corretamente. Até aí, tudo certo. Mas você já pensou se o destino que será dado ao seu corpo depois da morte também estará em linha com este comportamento sustentável que tinha quando vivo?

Parece mórbido falar disso, mas, à medida que aprendemos a viver de forma mais sustentável, é importante pensar também no impacto ambiental deste momento.

Os rituais para se despedir de quem já morreu existem desde que o mundo é mundo. Mas a questão é que os métodos convencionais de tratamento pós-morte de corpos apresentam uma série de questões ambientais, desde madeiras raras colhidas para caixões a formaldeído para embalsamentos. A contaminação do solo e dos lençóis freáticos por vazamento de gases sulfídricos e de necrochorume, que é o líquido com substâncias altamente tóxicas provenientes da decomposição de cadáveres, são um dos muitos problemas enfrentados por cemitérios.

A cremação é um pouco mais ecológica que um enterro tradicional, mas tem seus próprios impactos, como poluição do ar e o alto consumo de energia. O procedimento requer uma quantidade imensa de combustível e é responsável pela emissão de milhões de toneladas de dióxido de carbono anualmente. Apesar das melhorias ao longo dos anos, como a colocação de purificadores para conter a poluição do ar, ainda assim, continua requerendo combustível, seja uma pira de lenha, óleo tradicional ou gás.

Os olhos (e o tudo o mais) que a terra há de comer

Nos EUA, o chamado ‘enterro natural’ ou ‘enterro verde’ é permitido por lei, e o corpo se decompõe diretamente no solo sem a adição de produtos químicos, concreto ou materiais sintéticos.

A Holanda foi o primeiro país a desenvolver caixões a partir de um material chamado micélio, capaz de neutralizar substâncias tóxicas e fornecer nutrição para as plantas que crescem ao seu redor.

O cemitério de Ivry-sur-Seine, em Paris, já conta com uma área reservada onde ao invés de lápides, são usados marcadores de madeira indicando o local em que foram enterrados os caixões feitos de materiais naturais, como papelão e madeira. E tudo sem verniz ou tintas, nem mesmo nas vestimentas dos cadáveres, que são à base de fibras naturais.

No BioParque, em Minas Gerais, existem espaços em que as cinzas provenientes da cremação são usadas para o plantio de uma árvore escolhida pela família em forma de homenagem.

Apesar de esbarrar em estigmas sociais e principalmente religiosos, tem sido cada vez mais crescente o movimento por funerais, enterros e cremações mais sustentáveis. É a humanidade, que vem cada vez mais mudando seu estilo de vida, avaliando também seu estilo de morte, e reconfigurando a última despedida a fim de deixar uma ‘herança corpórea’ mais amigável ao meio ambiente.