Fonte: Flickr / Ana Cotta O rápido crescimento econômico do país resultou na intensificação da degradação do meio ambiente.

A relação entre crescimento, pobreza e meio ambiente mostrou-se ao longo de toda a história bastante conflitante, uma vez que o crescimento econômico das nações tradicionalmente se deu de maneira degradadora, sem a preocupação com o meio ambiente.

De acordo com Harris (2004), a medida em que cresceram as atividades econômicas, cresceu também o seu impacto sobre a esfera natural, trazendo novos problemas ecológicos globais ao meio ambiente, revelando a finitude dos recursos.

O crescimento econômico, portanto, embora desejável na macroeconomia tradicional, apresenta em toda a sua composição, danos irreversíveis ao meio ambiente. Muitas nações têm apresentado várias iniciativas de utilização de tecnologias limpas em seu processo produtivo, visando justamente mitigar tais danos ambientais, dadas as novas demandas de mercado e exigências do Estado. Em especial aquelas mais desenvolvidas, as quais são reconhecidamente as mais degradadoras.

Sobretudo, para os países pobres, este fenômeno é mais raro, uma vez que a incorporação de tecnologias limpas no processo produtivo ainda é muito cara, dificultando assim a sua adoção, devido à falta de recursos disponíveis nesses países. Sendo estes os que mais sofrem tais impactos ambientais, além disso, seus recursos têm sido pressionados pelos países ricos, os quais já dispõem de reduzida biocapacidade ambiental e passam a impactar essas áreas mais pobres, contribuindo para a redução da sua biodiversidade.

No caso do Brasil, observa-se uma grande controvérsia: de um lado sua incalculável biodiversidade e do outro as grandes desigualdades socioeconômicas em seu interior, de modo que mesmo com as melhorias no Índice de Desenvolvimento Humano apresentadas nas últimas décadas, a desigualdade de renda continua semelhante a verificada em 1960. Além disso, o rápido crescimento econômico do país resultou na intensificação da degradação do meio ambiente e no empobrecimento dos serviços ecológicos, provocando uma crescente perda da sua biocapacidade ao longo de todo o século XX.

Essa relação entre o crescimento, pobreza e meio ambiente tem gerado preocupações a nível global quanto ao futuro do planeta, levando a necessidade de se mensurar o desenvolvimento sustentável das nações. Nesta perspectiva, é válido destacar a importância da Pegada Ecológica, como índice de sustentabilidade mundialmente conhecido, amplamente comentado, referenciado e citado em várias metodologias (CONSTANZA, 2000; OPSCHOOR, 2000). Sendo utilizado com importante subsídio para autoridades formularem suas políticas públicas sustentáveis nos seus respectivos países.

A Pegada Ecológica mede as áreas terrestre e aquática necessárias para regenerar os recursos naturais que um país consome, ou seja, mede a quantidade da terra, biologicamente produtiva, necessária para prestar os serviços e gerar os recursos produtivos, sendo representada pela utilização de uma unidade de medida denominada hectare global – gha (WWF, 2014).

Os seus resultados apontam que o mundo caminha para um futuro insustentável e a menos que as autoridades incluam em suas agendas de desenvolvimento políticas que mitiguem significativamente os danos causados pelas suas atividades econômicas, buscando alternativas de desenvolvimento sustentável para os seus países, o planeta não conseguirá mais se autosustentar.

A mudança deve ocorrer prioritariamente nas nações mais desenvolvidas, visto que estas são consideravelmente as mais poluidoras e degradadoras, o que pode ser revelado pela Pegada Ecológica dessas áreas, as quais lideram o ranking das mais elevadas mundialmente (WWF, 2014). Além disso, esses países detêm os menores níveis de biocapacidade do planeta. Como resultado disso, seus impactos têm sido sentidos a nível global, através da intensa liberação de CO2 para o planeta, acentuando drasticamente as mudanças climáticas, o efeito estufa e o aquecimento global.

Depositphotos A Pegada Ecológica mede as áreas terrestre e aquática necessárias para regenerar os recursos naturais que um país consome.

No caso do Brasil, a sua Pegada Ecológica corresponde atualmente a 2,9 hectares globais por habitante, o que revela que o consumo médio dos recursos ecológicos por cada brasileiro está relativamente próximo ao mundial que é de 2,7, bem acima do ideal para o planeta que é de 1,8 gha. Atualmente o Brasil encontra-se na 56º posição entre os países que consomem mais recursos naturais do que planeta é capaz de repor (WWF, 2012). Por outro lado, o país apresenta-se como grande credor mundial de biocapacidade, entretanto esta mostrou-se decrescente nesse mesmo período, o que evidencia a perda da qualidade ambiental resultante da intensificação dos danos ambientais causados pelo homem.

A combinação entre crescimento econômico, redução da pobreza e meio ambiente, é essencial para a promoção do desenvolvimento sustentável das nações. Pois não se pode se pensar em desenvolvimento, com redução da pobreza, sem considerar os aspectos ambientais, diante dos riscos iminentes atuais. Os tomadores de decisões devem estimular uma economia verde em suas nações, criando oportunidades sustentáveis de crescimento para o seu país, considerando o meio ambiente, não como entrave para o crescimento econômico, mas como o caminho de sucesso para sua promoção.  Nesta perspectiva, o fato do Brasil ser um dos maiores credores mundiais de biocapacidade, pode possibilitar que um novo caminho rumo a sustentabilidade possa ser trilhado mundialmente. Aproveitando as oportunidades nas dificuldades. Assim, o planeta vencerá, todos vencerão.

 

Referências

HARRIS, Jonathan e CODUR, Anne Marie. Macroeconomics and the Environment. Global Development and Environment Institute Tufts University Medford, MA  02155. 2004. 37 p.

COSTANZA, R. The dynamics of the ecological footprint concept. Commentary-Forum: The Ecological footprint. Ecological Economics, v. 32, p. 341-345, 2000.

OPSCHOOR, H. The ecological footprint: measuring rod or metaphor? Commentary. Forum: The Ecological Footprint. Ecological Economics, v. 32, p. 363-365, 2000.

WWF. Living Planet Report 2014. Disponível aqui. Acesso em: setemb. 2014.

WWF. Living Planet Report 2012. Disponível aqui. Acesso em: setembro 2014.

Global Footprint Network. Advance the Science of sustentabilit. Disponível aqui. Acesso: setembro de 2014.