O método é considerado eficaz para o reflorestamento.

Uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) desenvolveu um projeto que pode ajudar a frear o processo de desertificação na região da Caatinga, que hoje atinge pelo menos 16% desse rico bioma, presente em vários estados nordestinos e no norte de Minas Gerais. O trabalho, sob coordenação da professora de ecologia Gislene Ganade, do Centro de Biociências, começou há quatro anos, em uma área de 3,5 hectares da Floresta Nacional de Açu, no interior do estado.

A professora notou um aspecto curioso de uma de suas plantas: o tamanho do tronco e das folhas da espécie eram pequenos quando comparados ao comprimento da raiz. Foi a partir deste momento que surgiu a ideia que deu vida ao projeto.

Mãos na massa (ou melhor, na terra)

Foto: UFRN

A técnica foi criada no Laboratório de Ecologia da Restauração (LER) com o apoio da equipe coordenada por Gislene, que pesquisou vários métodos de reflorestamento e o que trouxe melhor resultado consiste na utilização de um cano de PVC para plantio de sementes e mudas – como um vaso. O cano, que tem no final um pequeno reservatório de água, fica por um tempo em uma estufa. A técnica permite à planta crescer e, quando a raiz atinge um metro de extensão, é levada para o local definitivo, quando o cano é retirado.

“O alongamento da raiz traz a possibilidade de a planta puxar a água do fundo, onde está mais acumulada, e, assim, ela sobrevive”, explica a professora. Ao se desenvolver, ela retém muito mais nutrientes e costuma crescer além do habitual. Para chegar a essa metodologia, foi preciso realizar 35 combinações possíveis de métodos de reflorestamento, envolvendo os mais diferentes tipos de raízes.

A professora conta que isso só foi possível graças ao estoque líquido formado no pé da raiz. “A gente vai jogando água e no decorrer dos dias são oito litros acumulados. Não precisa mais irrigar. A planta vai utilizando lentamente o que precisa e que é só dela – nenhuma outra tem acesso”, afirma. Segundo ela, 16 espécies vêm sendo reassentadas, como a jurema branca e a preta, a umburama, o mororó e o juazeiro, sendo este último uma ótima fonte de pólen para as abelhas produzirem mel da melhor qualidade.

O projeto desenvolvido pela UFRN para a restauração da Caatinga está integrado à plataforma TreeDivNet que colabora com 16 países também preocupados com a desertificação dos seus biomas. Além disso, mantém parcerias com a Universidade Técnica de Munique (Alemanha) e a Universidade de Exeter (Inglaterra) em pesquisas que investigam as espécies arbóreas com maior potencial ecofisiológico para fixar carbono e restaurar áreas degradadas no semiárido brasileiro.

Com o retorno da cobertura vegetal e a não exposição do solo (considerado fértil) à salinização da terra, animais há muito tempo afastados da área trabalhada pela equipe da UFRN voltaram a procurar tocas e galhos para viver – devido às novas copas das árvores, à sombra que produzem e as folhas para alimento de alguns animais. Sem contar os ninhos de passarinhos, insetos e tatus.

Os planos para o futuro incluem ampliar a técnica em outras localidades brasileiras e transformar o canteiro de 3,5 hectares de Açu em uma floresta-escola. Mas para isso, é preciso apoio financeiro. “Conseguimos que parte do nosso projeto fosse financiada pelo CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico], mas ainda assim tive que terminar o levantamento com dinheiro do meu próprio bolso”, conclui Gislene, que tem como principais colaboradores acadêmicos em campo: alunos de mestrado, doutorado, de iniciação científica e estagiários voluntários.

Na sociedade atual, ver professores e estudantes de universidades públicas engajados em projetos voltados ao meio ambiente – que de quebra também ajudam a fauna brasileira, é realmente uma ótima notícia!

Fontes: Gov.Br | UFRN | Associação Caatinga