Para muitas pessoas, o dia só começa depois de um bom cafezinho. Mas como uma das principais commodities do mundo é produzida e descartada?

O café surgiu no século VII, na Etiópia. Logo se espalhou para a região árabe, depois para a Europa e não demorou muito para chegar ao Brasil. Atualmente, é a terra da floresta amazônica a maior produtora e exportadora de grãos de café do mundo. Em 2017, por exemplo, produziu 3,09 milhões de toneladas métricas de café em grãos – cerca de 1/3 da produção total mundial.

Em meados do século 20, os cientistas começaram a acreditar que o cultivo do café sob a luz direta do sol poderia aumentar a fotossíntese, prevenir doenças e permitir maior densidade de plantio de arbustos. Isso pressionou os agricultores a cortarem as copas das árvores que sombreavam seus arbustos. Hoje em dia, estamos compensando a perda de pássaros e morcegos matadores de insetos naturais com a aplicação de mais pesticidas – que têm vários efeitos colaterais, como a contaminação e exaustão do solo, água e grama e são tóxicos para outras plantas, peixes ou pássaros que os consomem indiretamente.

Além disso, a necessidade de espaço para cultivar mais safras (não só de café, mas também de milho, soja, trigo ou arroz) tem levado ao desmatamento de muitas florestas, o que significa eliminar um habitat crucial para a vida selvagem nativa, como aves tropicais e macacos, deixando o solo mais suscetível à erosão e frágil para enfrentar os eventos das mudanças climáticas.

A produção global de café para o ano-cafeeiro 2020–2021 está estimada em 171,9 milhões de sacas de 60kg, o que representa um aumento de 1,9% em relação ao ano-cafeeiro 2019–2020. Estamos bebendo todo esse café que está sendo produzido e vendido? Mais ou menos. Estamos bebendo muito, sim, mas não é só isso. Muitos desses grãos fornecem cafeína para bebidas (como a coca) e têm propriedades interessantes para as indústrias de cosméticos e farmacêutica.

Café orgânico, certificado e de comércio justo – só moda ou um bom ponto de partida?

Na produção de café orgânico não é permitido o uso de substâncias sintéticas, como a maioria dos pesticidas, herbicidas e fertilizantes. Além disso, comprar café certificado também seria bom para o planeta, uma vez que esses padrões provam que os produtores estão cumprindo as práticas ecológicas.

Outra opção também é estimular o chamado “comércio justo”, cujo modelo de negócios garante que os pequenos produtores recebam um salário adequado e uma parcela justa dos lucros que, na maioria dos casos, ficam para os grandes intermediários e varejistas.

O impacto ecológico do café – quais alternativas?

Você se lembra das formas tradicionais de fazer café? Comprá-lo moído em embalagens de médio-grande porte e colocá-lo em um êmbolo de café, filtro plástico ou filtro de papel (compostável), ou dentro de potes de alumínio ou aço inoxidável, sem falar no café solúvel instantâneo? Na verdade, isso poderia se transformar na nova moda, pois criaria menos resíduos e, em alguns casos, evitaria as emissões de CO2 associadas à reciclagem de cápsulas ou à criação de resíduos.

No entanto, não podemos afirmar com certeza qual é a melhor forma de se fazer o café, pois depende da rede elétrica e da estrutura de reciclagem de cada cidade e país, e dos hábitos de cada pessoa – em alguns casos, se ferver mais água e muito café usado, água, café e energia estão sendo desperdiçados.

Além disso, temos optado por consumir café de maneiras que criam resíduos desnecessários, como plástico ou cápsulas de plástico-alumínio. O mercado de cápsulas de café foi avaliado em U$14,74 bilhões em 2017 e deve registrar uma taxa composta de crescimento anual de 7,1% entre o período de 2018-2023. Essas cápsulas ou não são recicladas ou se são, muita energia (e CO2) é gasta no processo. Mas se você é do time dos coffee lovers versão expresso e ama até o barulho da máquina fazendo seu café, talvez uma máquina em cápsula de papel (totalmente compostável) também possa ser uma boa opção. Depois, se você está morando em um lugar onde tem uma lixeira orgânica para fazer compostagem, coloque seus resíduos ali e voilà, você fez o melhor que pôde com o café que escolheu comprar e consumir.

Se não costuma beber em casa e gosta mais do café para viagem, não se preocupe. Levar seu próprio copo reutilizável ajuda também!

Além disso, sempre podemos reduzir a quantidade de café que compramos e consumimos, escolhendo outros produtos (como chá verde e matcha) ou mesmo experimentando práticas de despertar do corpo, como técnicas de respiração ativa, que também têm saídas energizantes.

“Uma notícia boa e uma xícara de café todo mundo merece”

Isso é o que podemos tentar fazer para ajudar a minimizar os impactos ecológicos do café. Felizmente, cientistas e empreendedores já estão desenvolvendo soluções bem inovadoras, como usar resíduos de café para cultivar cogumelos. Mais recentemente, uma equipe de cientistas desenvolveu uma célula de combustível que usa micróbios que comem os resíduos e geram uma pequena quantidade de energia. De toda forma, embora essas inovações não façam parte de nossas rotinas diárias por ora, ainda assim podemos fazer nossa parte. Bora?