A cada 27 de maio, celebramos o Dia Nacional da Mata Atlântica, data que remete a 1560, quando o Padre José de Anchieta assinou a “Carta de São Vicente” – primeiro documento a descrever a biodiversidade das florestas tropicais nas Américas.
Este bioma de importância global para a biodiversidade, que se estende ao longo da costa brasileira, enfrenta uma realidade preocupante: possui a menor quantidade de vegetação nativa entre todos os biomas do país. Sua longa história de ocupação humana, que caminha junto à própria história do Brasil, resultou na remoção de grande parte da cobertura original, restando apenas cerca de 24% da floresta que um dia existiu, segundo dados do MapBiomas.
Desmatamento
Os níveis atuais de desmatamento da Mata Atlântica apresentam certa estabilidade, mas ainda exigem atenção constante. Segundo estudo publicado em fevereiro de 2025 na revista “Nature Sustainability”, realizado por cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), da Fundação SOS Mata Atlântica e da Universidade de São Paulo (USP), há padrões alarmantes na perda de florestas maduras – aquelas que estavam íntegras até 1989, quando se iniciou o mapeamento por satélites.
Estas florestas maduras, mais raras e ricas em biodiversidade, perderam 1,9 mil km² entre 2010 e 2020. O estudo aponta que o desmatamento diminuiu na maioria dos estados do Sudeste, enquanto aumentou no Centro-Oeste, Sul e estados do Nordeste.
O “Relatório Anual do Desmatamento no Brasil”, publicado em maio de 2025 pela iniciativa MapBiomas, traz dados de 2024 mostrando que a Mata Atlântica foi o único bioma que não registrou queda na perda de vegetação nativa. Houve um crescimento de 2% no desmatamento, considerado estável em relação a 2023, principalmente devido aos eventos climáticos extremos que atingiram o Rio Grande do Sul entre abril e maio de 2024, causando um aumento de 70% na perda de vegetação nativa naquele estado.
Sem esses eventos extraordinários, o bioma teria registrado uma redução de pelo menos 20% na área desmatada em comparação ao ano anterior.
Unidades de conservação
A Mata Atlântica conta com uma extensa rede de áreas protegidas: mais de 130 unidades de conservação federais, 443 estaduais, 14 municipais e 124 privadas. Estas áreas são fundamentais para a proteção da flora e fauna, especialmente das espécies ameaçadas de extinção.
Entre as unidades mais importantes está o Parque Nacional do Alto Cariri, no sul da Bahia, último refúgio do muriqui-do-norte (maior primata da América do Sul e endêmico do bioma) naquele estado. O Parque Nacional de Aparados da Serra, em Santa Catarina, preserva as maiores porções de mata de araucária, com seu impressionante relevo de cânions e desfiladeiros.
O Parque Nacional da Chapada Diamantina, no interior da Bahia, é uma das maiores unidades de conservação do país, com mais de 152 mil hectares, abrangendo áreas de Mata Atlântica e de transição com a Caatinga. Já o Parque Nacional da Serra da Bocaina, entre Rio de Janeiro e São Paulo, compreende o maior trecho contínuo da Mata Atlântica e abriga algumas onças-pintadas.
No Rio de Janeiro, o Parque Nacional da Serra dos Órgãos trabalha na conservação do sagui-da-serra-escuro (ou sagui-caveirinha), classificado como “em perigo” na Lista Nacional Oficial de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção. O Parque Nacional de Superagui, no Paraná, é o único local onde se encontra o mico-leão-da-cara-preta.
Merece destaque também o Parque Ecológico Mico-Leão-Dourado, em Silva Jardim (RJ), que realiza a principal ação de preservação desta espécie-símbolo da conservação brasileira. Somente em 2024, foi reconhecido pelo ICMBio como Reserva Particular do Patrimônio Natural, tornando-se uma área oficialmente protegida da Mata Atlântica.
O futuro da Mata Atlântica
Apesar dos desafios, as iniciativas de conservação mostram que ainda há esperança para este bioma tão importante. A preservação das áreas remanescentes e a recuperação de áreas degradadas são essenciais para garantir a sobrevivência das espécies endêmicas e a manutenção dos serviços ecossistêmicos que a Mata Atlântica proporciona, como a regulação do clima, a proteção de mananciais e a polinização.
O Dia Nacional da Mata Atlântica nos convida a refletir sobre nossa relação com este bioma e a importância de protegê-lo. Cada hectare preservado representa um passo importante para a conservação da biodiversidade brasileira e para a qualidade de vida das populações humanas que dependem deste ecossistema.
Com informações de National Geographic