O Dia Mundial do Meio Ambiente de 2025 celebra sua 50ª edição com um tema urgente: a luta contra a poluição plástica. E não é por acaso. Atualmente, produzimos mais de 430 milhões de toneladas de plástico por ano no mundo, sendo que dois terços são produtos de vida curta que rapidamente se transformam em resíduos, invadindo oceanos e, muitas vezes, retornando para nossos corpos através da cadeia alimentar.
“O material que se tornou parte indissociável do nosso cotidiano tem impactos significativos não apenas na vida selvagem, mas também no clima e na saúde humana”, alerta Llorenç Milà i Canals, responsável pela Iniciativa de Ciclo de Vida do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Por que devemos nos preocupar com o plástico?
Barato, durável e versátil, o plástico se infiltrou em todos os aspectos da vida moderna. Das embalagens às roupas, dos produtos de beleza aos utensílios domésticos, ele está em toda parte. O problema? A facilidade com que o descartamos: anualmente, mais de 280 milhões de toneladas de produtos plásticos de curta duração viram lixo.
Os números são alarmantes: 46% dos resíduos plásticos acabam em aterros sanitários e 22% são mal gerenciados, transformando-se em lixo espalhado pelo ambiente. Diferentemente de materiais orgânicos, o plástico não se biodegrada naturalmente – ele apenas se fragmenta em pedaços cada vez menores, permanecendo no ambiente por centenas de anos.
Essa poluição sufoca a fauna marinha, prejudica a fertilidade do solo, contamina as águas subterrâneas e, cada vez mais, encontra caminho para dentro do nosso organismo, com potenciais consequências para a saúde ainda não totalmente compreendidas.
Além da poluição: o plástico e a crise climática
Poucos sabem, mas o plástico também é um vilão para o clima. Sua produção está entre os processos industriais mais intensivos em energia do planeta. Fabricado a partir de combustíveis fósseis como o petróleo, sua cadeia produtiva liberou 1,8 bilhão de toneladas de gases de efeito estufa em 2019 – o equivalente a 3,4% das emissões globais.
De onde vem tanto plástico?
O setor de embalagens lidera o ranking de geradores de resíduos plásticos. Cerca de 36% de todo o plástico produzido no mundo vai para embalagens, incluindo recipientes descartáveis para alimentos e bebidas. Destes, assustadores 85% acabam em aterros ou como lixo mal gerenciado no ambiente.
Outros setores problemáticos
A agricultura utiliza plástico em larga escala – de revestimentos de sementes a filmes para cobertura do solo. A indústria pesqueira deixa um rastro significativo, com mais de 100 milhões de quilos de plástico entrando nos oceanos apenas de equipamentos de pesca industrial. E a moda? Cerca de 60% dos tecidos usados em roupas são sintéticos derivados do plástico, como poliéster, acrílico e nylon.
Microplásticos: a ameaça invisível
Quando falamos de poluição plástica, não podemos ignorar os microplásticos – fragmentos menores que 5mm. Eles estão em toda parte: no desgaste dos pneus nas estradas, nas microesferas presentes em produtos de beleza e, especialmente, nas fibras liberadas durante a lavagem de roupas sintéticas.
A cada ciclo de lavagem, nossas roupas liberam milhares de microfibras plásticas que escapam dos sistemas de tratamento de água e chegam aos oceanos. Estima-se que apenas a lavanderia doméstica seja responsável pelo lançamento de aproximadamente 500 mil toneladas de microfibras no oceano anualmente – o equivalente a quase 3 bilhões de camisetas de poliéster.
O mundo está reagindo
Em 2022, os países-membros da ONU deram um passo histórico ao concordar com uma resolução para acabar com a poluição plástica. Um Comitê de Negociação Intergovernamental está desenvolvendo um instrumento juridicamente vinculante, com previsão de conclusão até o final de 2024.
O diferencial desta abordagem é seu foco no ciclo de vida completo dos plásticos – da extração de matérias-primas e design dos produtos até a produção e gestão de resíduos. A ideia é repensar o sistema antes mesmo que o lixo seja gerado, adotando princípios de economia circular.
Soluções sistêmicas para um problema global
Apesar dos avanços, os compromissos atuais de governos e indústrias ainda são insuficientes. Para enfrentar efetivamente o problema, precisamos de uma transformação profunda no sistema econômico – deixando para trás o modelo linear de “produzir-usar-descartar” e adotando uma economia circular, onde o plástico permanece em uso pelo maior tempo possível.
Para isso, os países precisam:
- Incentivar a inovação em materiais alternativos
- Estabelecer impostos sobre produtos plásticos de uso único
- Oferecer benefícios fiscais para alternativas sustentáveis
- Aprimorar infraestruturas de gestão de resíduos
- Participar ativamente nas negociações internacionais
O que você pode fazer
Embora a crise da poluição plástica exija mudanças estruturais, nossas escolhas individuais têm poder. Algumas ações práticas incluem:
- Evitar produtos de plástico descartáveis sempre que possível
- Reutilizar itens plásticos existentes até o fim de sua vida útil
- Reciclar corretamente
- Levar sacolas reutilizáveis ao fazer compras
- Priorizar alimentos locais e sazonais, que geralmente exigem menos embalagens
- Usar sua voz para cobrar ações de governos e empresas
- Apoiar marcas comprometidas com a redução do plástico
Dia Mundial do Meio Ambiente: um chamado à ação
Celebrado anualmente desde 1973, o Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho) se tornou a maior plataforma global de mobilização ambiental. Liderado pelo PNUMA, o evento engaja milhões de pessoas em todo o mundo na proteção do nosso planeta.
Em 2025, ao focar na crise da poluição plástica, o Dia Mundial do Meio Ambiente convida todos nós a repensar nossa relação com esse material onipresente e a agir para um futuro onde o plástico não ameace nossos oceanos, nossa saúde e nosso clima.