As espécies podem desaparecer devido ao uso de agrotóxicos, monoculturas e mudanças no clima.

Os insetos representam cerca de 90% das espécies de animais em todo o mundo, mas sua sobrevivência está em risco. Os principais culpados são os pesticidas e fertilizantes utilizados na agricultura intensiva juntamente com a urbanização e as mudanças climáticas. Segundo o Atlas dos Insetos, lançado pela Fundação Heinrich Böll, 40% dos insetos podem ser extintos nas próximas décadas, comprometendo diversos serviços ambientais como a polinização de espécies vegetais, o controle biológico de pragas agrícolas e a ciclagem de nutrientes, processo essencial ao equilíbrio dos ecossistemas, o que acabaria por ameaçar a segurança alimentar da humanidade. Os autores do Atlas destacam que, além das boas práticas, a proteção dos insetos precisa de políticas públicas.

O Brasil abriga aproximadamente 90 mil espécies catalogadas, quase 9% do total, possuindo a maior diversidade do planeta. No entanto, estimativas indicam que a fauna brasileira pode conter entre 500 mil e um milhão de espécies.

As causas

Agrotóxicos: o uso excessivo afeta populações de polinizadores e pode trazer impactos na produção agrícola, já que 76% das plantas utilizadas para prover alimentos no país dependem da polinização feita por animais. Além disso, os chamados defensivos também podem reduzir a quantidade e variedade de insetos que se alimentam de pragas agrícolas e as controlam naturalmente, aumentando ainda mais a necessidade de aplicações de agrotóxicos, em um círculo vicioso.

Monocultura: a questão da monocultura (recobrir um grande trecho de solo com uma planta só) é que os insetos que polinizam essa planta específica se dão bem, mas todos os outros se dão muito mal. Arbustos e árvores pontuais – comuns em regiões de savana e cerrado como as do Centro Oeste brasileiro – são removidos para abrir caminho às colheitadeiras, reduzindo ainda mais a variedade de habitats disponíveis. O ambiente se torna homogêneo. Os agrotóxicos matam, repelem, desorientam o voo e a prole dos insetos. O traçado dos rios é alterado para permitir irrigação e drenagem.

Mudanças climáticas: prejudicam insetos benéficos como os polinizadores, mas podem tornar abundantes espécies consideradas pragas, e diminuir a tolerância de plantas agrícolas aos seus ataques. Há, ainda, o risco à saúde: a alta da temperatura, o desmatamento e a urbanização desordenada são fatores de risco para a proliferação de mosquitos Aedes aegypti, causadores da dengue, zika e chikungunya.

O aumento da temperatura também pode desencadear surtos de gafanhotos, por afetar o desenvolvimento, comportamento e reprodução destes insetos. Desde o século 17, há registros de ataques de gafanhotos no Brasil e a última grande ameaça aconteceu em agosto de 2020, quando nuvens de gafanhotos se deslocaram por Argentina e Paraguai, ameaçando entrar no país.

Um estudo da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), citado no Atlas, demonstra que a produção de alimentos como melancias, abóboras, cacau e castanha-do-Pará pode sofrer um declínio de mais de 90% na ausência da polinização por animais.

Para Marcelo Montenegro, coordenador da área de Justiça Socioambiental da Fundação Heinrich Böll no Brasil, o Atlas funciona como uma grande ferramenta de popularização da ciência voltada para dar visibilidade aos insetos – muitas vezes, temidos pelos humanos, mas com grande importância na natureza. “Os insetos geralmente são vistos de forma negativa, como pragas, como vilões. Mas não é assim. Eles têm uma importância imensa para a biodiversidade, para a vida e alimentação como um todo no planeta que é fundamental para a nossa própria sobrevivência.”, ressalta Montenegro, que destaca a obra como uma porta de entrada para as pessoas interessadas no tema poderem se aprofundar.

A dinâmica de colaboração das espécies tem importância econômica e social. Como exemplo, as abelhas têm papel significativo em regiões de baixa renda brasileiras, já que grande parte dos apicultores são agricultores familiares. Outro destaque entre os insetos colaboradores são as joaninhas, que atuam no controle biológico de espécies indesejáveis.

Uma sugestão é a agroecologia como solução mais amigável para garantir a biodiversidade e a sobrevivência das espécies. O uso de agroecossistemas diversificados, por exemplo, aumenta o número de espécies e de interações nos cultivos, trazendo estabilidade às comunidades de insetos. No Brasil, há experiências bem-sucedidas em plantações de café intercaladas com árvores de ingá: além de produzir mais frutos, o café cultivado nestas condições é menos afetado pelo bicho-mineiro do cafeeiro.

Fruto do trabalho de 34 autores, entre cientistas brasileiros e estrangeiros, o Atlas sugere alternativas para reverter a situação, a partir de práticas ecológicas que preservem a biodiversidade na agricultura e políticas públicas que promovam a proteção das espécies. Ele deve ser utilizado como instrumento de educação, para espalhar a informação e a problemática a todos os tipos de público – até mesmo os leigos.

Fontes: Um Só Planeta | Super Interessante