iStockphoto.com / stillwords A mudança no período migratório dos cucos, devido mudanças climáticas, dificulta que essas aves cuidem de seus filhotes.

As mudanças climáticas são muito discutidas em virtude do aumento da temperatura e como isso afetaria a vida humana em regiões litorâneas, ilhas e outras localidades do planeta. Porém, um grande impacto na alternância das condições climáticas já está afetando a vida de animais ao redor do mundo. Não estamos falando neste ponto de espécies que vivem em habitats gelados, como os ursos polares, mas sim de aves.

Segundo estudo realizado pela Birdlife International, aves de todo o planeta já começaram a migrar de seus habitats naturais para regiões nada comuns para algumas espécies, como para o norte do globo e polos norte e sul, sempre em busca de pontos mais elevados como em encostas de montanhas. A pesquisa concluiu que, das 570 espécies de aves analisadas, 1/4 já foi afetada negativamente por mudanças climáticas e outras 13%, positivamente.

“As pessoas consideram a mudança climática como algo ainda distante, mas os sinais de aves são de que mudanças significativas e profundas já estão ocorrendo e com efeitos prejudiciais para uma grande proporção de espécies”, afirmou um dos autores do estudo, Tris Allinson, ao jornal The Guardian.

Mudança de padrões

“Estamos vendo um padrão consistente de aves que se deslocam em direção aos polos norte e sul em seus respectivos hemisférios e movendo-se para altitudes mais elevadas nas encostas das montanhas”, acrescentou Allinson. O tucano Quilha-faturados (Ramphastos sulfuratus), por exemplo, já pode ser encontrado em altitudes de 1.500 metros na Costa Rica. Já os Jays cinzentos (Perisoreus canadensis) ampliaram sua presença em quase 20 quilômetros para o norte nos últimos 26 anos. Outras espécies bem conhecidas, como pinguins e papagaios, viram suas populações caírem em 50% em algumas localidades devido à mudança climática.

“Também estamos vendo mudanças no comportamento das aves e no calendário das suas migrações, assim como desfasamentos em suas interações com outras espécies”, disse Allinson. Os Cucos, por exemplo, estão migrando mais tarde do que outras aves que também vivem no norte da África. Esta espécie utiliza ninhos construídos por outros animais, porém, com a mudança na época de migração, muitas vezes encontra os ninhos já “preenchidos”, o que dificulta a criação dos filhotes.

Ameaças de extinção e soluções possíveis

Segundo o relatório, as mudanças climáticas que provocam alterações nos comportamentos das aves também podem levar à extinção de algumas espécies. A pesquisa concluiu que 1/3 das aves europeias já estão ameaçadas e que grande parte das espécies norte-americanas pode presenciar a perda de mais da metade de suas extensões geográficas até 2099. Já aves que vivem no leste do continente africano podem perder totalmente seus habitats naturais.

Outros fatores que podem agravar ainda mais a situação são o desmatamento e o aumento no nível do mar, isso porque tais problemas ambientais destruiriam zonas úmidas e florestas. Para os pesquisadores, todavia, existem soluções comprovadamente eficazes para evitar os piores cenários. Na Europa Oriental, por exemplo, a restauração de zonas úmidas e a criação de corredores migratórios no Mar Vermelho possibilitaram que mais de 1,5 milhão de aves migrem com segurança entre cabos de eletricidade, postes e turbinas eólicas.

Investimentos em melhores projetos de conservação, bioenergia e maior rigor no cumprimento de leis ambientais também são fatores que podem contribuir para evitar o pior. “As soluções baseadas na natureza não só oferecem uma resposta eficaz e acessível às alterações, mas também possibilitam uma série de benefícios para as pessoas e biodiversidade”, concluiu Edward Perry, outro dos autores do relatório.