Stockphoto.com / ashumskiy Especialistas precisam desenvolver projetos que não sofram com os fenômenos naturais.

Os mais velhos irão lembrar-se disso. Não faz muitos anos, o povo brasileiro gostava de comentar que seu país enfrentava muitos problemas, mas, aparentemente, estava livre dos grandes desastres naturais. Obviamente, conheciam-se chuvas e ventos fortes, mas dificilmente ouviam-se, em seu território, expressões como ‘ciclone’, ‘tornado’, ‘terremoto’ e ‘nuvem de cinzas vulcânicas’. Mas os tempos mudaram. A ação negativa do homem sobre a natureza e a sua natural transformação estão, aceleradamente, mudando o clima do planeta Terra.

A cada ano, o Brasil forma mais e mais profissionais para as áreas da construção. Em alguns cursos, como no de Arquitetura & Urbanismo e Engenharia Civil, os alunos aprendem que precisam estar atentos às ações de diferentes agentes externos contra as estruturas. Eles realizam exercícios de cálculo e observam amostras em ‘laboratórios de tecnologia’. Porém, quando são lançados no mercado de trabalho, acabam rendendo-se às velhas práticas, que muitas vezes ignora os desafios impostos pelas novas variações climáticas.

Em alguns países, como no Japão, existe há tempos a preocupação em relação à elaboração de projetos que prevê construções mais resistentes. As últimas catástrofes, provocadas pelos terremotos e tsunamis, mataram milhares de pessoas e deixaram um enorme rastro de destruição material. Porém, os danos seriam muito maiores se algumas medidas não fossem previamente tomadas.

Pesquisas em busca de novas soluções

Universidades renomadas, como a University of Canterbury, na Nova Zelândia, e a Nagoya University, no Japão, dedicam-se há décadas aos estudos voltados ao desenvolvimento de elementos e de novas tecnologias que possam resistir a estes severos abalos estruturais. Mas será que a maioria das empresas brasileiras também leva a sério estes possíveis riscos aos seus projetos? Será que entendem que esta é uma condição global e que é isto que se irá enfrentar de agora em diante também no Brasil? Tudo indica que não.

Em janeiro deste ano, diversos moradores da cidade de Londrina, no Paraná, relataram terem presenciado o surgimento de profundas rachaduras em pisos e paredes de suas residências. Mais tarde, os geólogos confirmaram o abalo sísmico de 1.9 de magnitude. Quase uma semana depois, mais oito abalos haviam sido registrados e muitas pessoas deixaram as suas casas com medo de desabamentos.

Também no mesmo mês, a cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, foi vítima de um dos temporais mais fortes já registrados em anos. Alguns meteorologistas até mesmo cogitaram a ação de um tornado. Ventos com 120km/h destruíram estruturas, telhados, esquadrias e até arrancaram parte do revestimento das fachadas de diversas edificações recém construídas. Isto fez com que muitos se questionassem sobre qual a qualidade dos materiais, das técnicas e da mão-de-obra empregada nestes novos empreendimentos.

Ocorrências, assim, podem se tornar mais frequentes no Brasil. Infelizmente, neste país, não há bons sistemas de detecção. É importante que os arquitetos e engenheiros lutem para mudanças nos códigos de obras das suas regiões. A ABNT já estabelece alguns requisitos para construção com tais considerações (ver NBR 15.421, de 2006), mas na prática não existem verificações e ou exigências para o cumprimento das mesmas.

No Brasil a falta de fiscalização, as construções irregulares e o ensino genérico aplicado nas universidades deixam alguns dos trabalhos muito atrasados em relação a outros. Quando profissionais formados aqui vão trabalhar em empresas de países vizinhos normalmente se surpreendem. No Chile, por exemplo, existem sistemas de cálculos e normas que devem ser seguidas para o bom desenvolvimento de estruturas. Este país vem sofrendo com muitos terremotos e todos estes esforços ajudam na diminuição aos possíveis danos causados.

Então, no Brasil, profissionais de diferentes áreas devem se preparar melhor quanto à resistência das construções. Precisam se preocupar quanto à gestão de emergências. Precisam se preocupar quanto ao planejamento do índice de resiliência das suas cidades. Devem lutar, junto aos órgãos governamentais, pela criação de bons planos reguladores. E, o mais importante, devem ampliar estudos para o entendimento destas novas intensidades e variações climatológicas no país. Pois, não se pode ser pego de surpresa, pelo simples descaso, por possíveis reflexos, ressonâncias e repercussões destes eventos lastimáveis.