Um dos doces mais desejados do mundo tem um lado bem amargo, mas nem tudo são más notícias.

Para muitas pessoas, o chocolate é uma espécie de pedaço de felicidade disponível em gôndolas. No entanto, a produção do cacau não é assim tão feliz para o meio ambiente.

Apesar de ser uma delícia para praticamente 10 entre 10 pessoas, o chocolate está mais para vilão mesmo – e não só das dietas: para produzir míseros 500g, são necessários cerca de 1.200 galões de água. A produção de uma simples barrinha de 100g ao leite pede 2,52 m² de terra e libera na atmosfera quase 350g de dióxido de carbono. Especialistas estimam que 70% do desmatamento ilegal do país está relacionado ao cultivo do cacau.

Além disso, os produtores de cacau (especialmente da África Ocidental) frequentemente usam trabalho infantil para ajudar no cultivo, na colheita e no transporte dos grãos – e este triste índice aumentou 9% nos últimos 10 anos.

É, se o assunto dessa matéria pode ter despertado a vontade de devorar aquela barra de chocolate que está no seu armário, é provável que, agora, ela tenha passado. Mas, apesar dos desafios da indústria do cacau, há esperança. Especialistas identificaram uma série de técnicas agrícolas que podem aumentar a produtividade das fazendas de cacau, reduzindo a necessidade de desmatamento. Outra novidade boa é que empresas produtoras de chocolate já mapearam o genoma do cacau, levando a árvores que são três a quatro vezes mais produtivas e resistentes ao clima do que as variedades usadas na África Ocidental.

E que tem mais uma notícia boa: a Costa do Marfim, que é o maior produtor mundial, encontrou um uso criativo para a planta do cacau que poderia abastecer milhões de residências. O grão de cacau é só uma pequena parte da planta – e a mais cobiçada, diga-se de passagem. E nem poderia ser muito diferente, porque é dessa parte que sai a matéria prima das barras, bebidas e variações desse alimento que atrapalha as dietas e enlouquece os chocólatras.

As cascas dos grãos, das vagens e o chamado o suor do cacau (que é um líquido amarelado claro que escorre durante a fermentação) geralmente são jogados fora. Mas agora, esses resíduos podem virar energias renováveis. Após um projeto-piloto, uma usina de biomassa localizada naquele país usará a matéria da planta do cacau que sobra depois da produção na geração de energia elétrica, de maneira muito semelhante a uma usina convencional de combustível fóssil. Estima-se que a usina será capaz de atender às necessidades de eletricidade de 1,7 milhão de pessoas e que pode reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 4,5 milhões de toneladas. Também há planos de instalações para converter as cascas em biodiesel.

Em Gana, a casca do cacau já está sendo usada para gerar energia em escala bem menor. Pesquisadores da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, desenvolveram um pequeno gerador de 5 kW que funciona com cascas de cacau. O objetivo é levar energia para áreas rurais, onde apenas 50% das pessoas normalmente têm acesso à eletricidade. Na Amazônia, o Brasil vem implementando sistemas sustentáveis agroflorestais de cacau em terras degradadas para combater o desmatamento, gerar renda e preservar o solo.

É sempre animador encontrar outras possibilidades para produtos residuais e alternativas que permitam um cultivo mais sustentável, principalmente considerando que uma das plantações mais apreciadas do mundo é também uma das mais poluentes que existem. Mas é um engano achar que nós, consumidores, não temos muito a fazer para colaborar com mais boas novas como essas. Ao contrário, podemos e devemos evitar o desperdício e, se dermos preferência por opções de produtores locais, será ainda melhor. Quando se fala em meio ambiente, tudo acontece em escala exponencial. Ou seja, se todo mundo faz um pouco, a coisa muda – e para melhor. Quem sabe agora aquele chocolate volte a te dar água na boca.