Você já parou para pensar se aquele produto que promete ser “eco-friendly” realmente cumpre o que promete? Um novo estudo revelou dados alarmantes sobre o greenwashing no Brasil, mostrando que a maioria das alegações ambientais que vemos nas prateleiras não passa de marketing enganoso.

O cenário atual do greenwashing brasileiro

O estudo “Greenwashing no Brasil: Um estudo sobre as alegações ambientais nos produtos Edição 2024”, realizado pela Market Analysis Brasil com apoio do Instituto Akatu, analisou 2.098 produtos de diferentes categorias e descobriu que 85% das alegações ambientais são falsas ou enganosas. Este número praticamente não mudou em relação à pesquisa de 2014, quando o índice era de 83%.

A pesquisa identificou 3.045 alegações ambientais, um crescimento de 28% desde 2014. Isso mostra que, embora o discurso verde tenha se intensificado, a transparência das marcas não evoluiu na mesma proporção.

O pecado da “incerteza” lidera o ranking

Entre os diferentes tipos de greenwashing identificados, o mais comum foi o da “Incerteza”, presente em 57% dos produtos analisados. Esse tipo de prática acontece quando marcas usam termos vagos como “eco-friendly”, “sustentável” ou “amigo do meio ambiente” sem oferecer comprovação concreta sobre o real impacto ambiental do produto.

Outros problemas frequentes incluem:

  • Falta de prova (17%): alegações sem respaldo verificável
  • Irrelevância (16%): destacar como diferencial características já obrigatórias por lei

Setores que mais praticam greenwashing

O estudo revelou que alguns segmentos se destacam negativamente:
  • Produtos de limpeza: 96% (com aumento de 27% desde 2014)
  • Casa, jardim e construção: 86%
  • Eletroeletrônicos e acessórios: 86%
  • Cosméticos e higiene pessoal: 75%
Felizmente, alguns setores mostraram melhora, como brinquedos (de 84% para 72%) e cosméticos (de 81% para 75%).

Consumidores mais conscientes, mas ainda vulneráveis

A boa notícia é que os consumidores estão se tornando mais atentos às práticas ambientais das empresas. Em 2023, 32% dos consumidores afirmaram recompensar empresas sustentáveis, comparado a apenas 22% em 2010. O boicote a marcas que praticam greenwashing também cresceu de 10% para 22% no mesmo período.

No entanto, a confiança nas alegações ambientais tem sido abalada. Entre 2019 e 2023, houve uma queda na porcentagem de consumidores que acreditam que o consumo pode mudar o comportamento das empresas, caindo de 85% para 77%.

Como identificar e evitar o greenwashing

Para não cair nas armadilhas do marketing verde enganoso, fique atento a:
  • Termos vagos: desconfie de palavras como “natural”, “verde” ou “sustentável” sem explicações específicas
  • Falta de certificações: procure por selos reconhecidos de sustentabilidade
  • Alegações irrelevantes: características que já são obrigatórias por lei não são diferenciais ambientais
  • Ausência de dados: empresas transparentes fornecem informações concretas sobre seus impactos

O papel das empresas na mudança

As empresas precisam entender que a sustentabilidade vai muito além do discurso. É necessário investir em práticas reais, comunicação transparente e certificações válidas. Como explica Fabian Echegaray, da Market Analysis Brasil: “A abundância de selos e promessas ambientais sem base real pode gerar ceticismo e acabar prejudicando não só as marcas que adotam essa estratégia, mas também o próprio ideal de sustentabilidade.”

Construindo um futuro mais transparente

O cenário atual nos convida à reflexão sobre como podemos, como consumidores, exigir mais transparência das empresas. Cada escolha de compra é um voto pelo tipo de mundo que queremos construir. Ao questionar práticas e buscar informações, contribuímos para um mercado mais ético e verdadeiramente sustentável.

A mudança começa com a consciência. Quando empresas percebem que consumidores valorizam a transparência e punem práticas enganosas, elas são incentivadas a adotar posturas mais responsáveis. Afinal, em um mundo onde as pessoas não toleram mais serem enganadas, a honestidade se torna o melhor diferencial competitivo.