© Depositphotos.com / brozova A crise pode ser um meio de aprendizado, desenvolvimento e conquista.

Desde que me entendo por gente ouço falar de crises: existenciais, econômicas, ambientais, politicas etc. etc. “Desesperar jamais” é o meu mantra para enfrenta-las. Até porque cheguei à conclusão de que crise é algo contemporâneo a todas as épocas e todas as gerações.

Com o passar dos anos, amadurecemos e vemos que as crises são grandes instrumentos de aprendizado, de desenvolvimento e de conquistas. É assim que as coisas acontecem e que a humanidade avança. Claro que quando estamos no centro do furacão não temos esta calma toda, e o período da crise, por menor que seja, nos parece uma eternidade.

Mas existem crises e crises. E a espécie humana, para sua sobrevivência, tem a necessidade de identificar o grau do risco e da dificuldade de superação de cada uma delas.
Mudanças climáticas lidera o ranking das preocupações globais

De todas as crises que ouvi e vivi, a mais séria, no meu entender, é a ambiental, mais precisamente as mudanças climáticas. E eu não estou sozinha neste movimento. Em recente pesquisa realizada em 40 diferentes países, com 45.435 pessoas entrevistadas no período de 25 março a 27 maio de 2015, esta também foi a maior preocupação. Para 46% dos entrevistados, as mudanças climáticas ficaram em 1º lugar no ranking das maiores preocupações globais, superando a instabilidade econômica mundial (que ficou em segundo lugar).

Este estudo foi realizado meses antes da conferência internacional sobre a mudança climática, que será realizada em Paris, em dezembro deste ano. No Brasil, as mudanças climáticas preocupam 75% dos entrevistados, e a instabilidade da economia global, 60%.
A pesquisa foi publicada pelo instituto Pew Research Center, em 14 de julho de 2015, e pode ser vista na íntegra aqui.

Veja gráficos abaixo:

Reprodução: Pew Research Center Top 5 global concerns
Reprodução: Pew Research Center Top Threats by Region
Reprodução: Pew Research Center Greatest Threats around the World.

 

O mais surpreendente não é a proposta, e sim os valores que norteiam a sustentabilidade. São valores universais.

Dentro deste prisma é que me ocorre falar de sustentabilidade, um conceito que propõe novos modelos de comportamento humano para superar crises de natureza ambiental, social e, até mesmo, econômica.

Porém, o mais surpreendente não é a proposta, e sim os valores que norteiam a sustentabilidade. São valores fechados com a proteção da vida, o que nos faz concluir que tudo que coloca em risco a vida é insustentável. Um conceito simples que coloca frente a frente a vida e o seu contrário. E mais simples ainda quando desnuda esta condição e nos remete às questões éticas universais. Que a sustentabilidade tem na lógica e na inovação seu lado prático é fato. Mas a sua inspiração e seu fundamento principal estão no pensamento filosófico, berço da ética e das conquistas da humanidade.

A sustentabilidade propõe o comércio justo, o livre acesso aos recursos naturais que dão sustentação à vida, como a água, por exemplo, que é um direito universal. Propõe não tratar de forma desigual os iguais, a promover inclusão social, a respeitar os direitos humanos, a conviver com as diferenças e a proteger toda forma de vida no planeta. Nada é incoerente com a proposta de promover a sustentabilidade (e perenidade) da vida e dos povos, por meio do equilíbrio, justiça e desenvolvimento para as atuais e futuras gerações.

A sustentabilidade é um valor que transforma o modo como as pessoas vivem e interagem entre si. Quando parte integrante da cultura das empresas e dos consumidores, é transformadora. Inovadora quando desenvolve novas formas de produzir e consumir. Transformadora, quando tais conquistas se perpetuam.

As emissões que estão impactando o ambiente e provocando os fenômenos das mudanças climáticas no mundo são consequências do modo de produção e consumo de países desenvolvidos e em desenvolvimento. Coloca em risco toda forma de vida no planeta. É insustentável a médio e longo prazo. Cientistas da ONU (IPCC) confirmam os impactos das atividades humanas no clima em estudos publicados. É essencial a mudança no modo de produzir e consumir, com tecnologias menos impactantes e relações comerciais mais justas entre os países, para reversão deste quadro de risco à vida. Agir para superar esta crise é praticar sustentabilidade.

A crise da sustentabilidade é fruto de outras crises, maiores e mais temidas

O momento atual é sempre fruto das escolhas e conquistas do passado, e assim será sucessivamente. Nos próximos anos viveremos o nível de sustentabilidade resultante das escolhas e conquistas atuais.

A sustentabilidade é um processo que tem inicio, mas não tem fim. Implantamos hoje para colhermos amanhã. Nada é imediato e tudo envolve investimento, cuidado e espera. Diz respeito ao individuo e ao coletivo. Deve ser bom não apenas para um, mas para muitos. Talvez por isso a sustentabilidade nos encante como projeto, mas nos desanime como ação e prática pelo grau de exigência do comprometimento individual e coletivo.

Portanto, a crise da sustentabilidade (dos sistemas ambiental, social e econômico) é fruto de outras crises, maiores e mais temidas: a crise da desumanidade (moral) e a crise da desinteligência (ignorância). A história será sempre implacável com seus heróis e vilões, registrando o mérito da superação ou do fracasso de cada época e geração. Alguém duvida?