Mais de 400 milhões de toneladas métricas de plástico são produzidas anualmente no mundo, e apenas uma pequena fração é reciclada. O restante acaba em aterros sanitários ou contamina o ambiente natural, impactando desde a saúde humana até o clima global.

Enquanto representantes de países se preparam para finalizar um tratado da ONU contra a poluição plástica, especialistas compartilham estratégias práticas para reduzir nossa dependência desse material.

Embora mudanças estruturais sejam necessárias para resolver o problema em escala global, os esforços individuais ainda podem gerar impacto significativo. Muitas pessoas já adotaram sacolas retornáveis, garrafas reutilizáveis e canudos alternativos, mas existem diversas outras maneiras de tornar a vida mais sustentável.
Festas mais sustentáveis transformam celebrações
Rebecca Prince-Ruiz, fundadora australiana da campanha Plastic Free July, está em seu 15º ano tentando viver sem plástico. Este ano, ela criou um kit para festas contendo 15 copos, pratos, tigelas e itens decorativos reutilizáveis, como bandeirolas. O kit fica disponível para vizinhos quando organizam celebrações.
Para presentes, ela sugere embrulhos de tecido reutilizáveis em vez de papel de presente, que pode conter plástico. Presentear com experiências ou vouchers também elimina embalagens desnecessárias. Os anfitriões podem solicitar que convidados não tragam presentes e evitem itens como glitter, feito principalmente com politereftalato de etileno (PET).

Pesquisadores da Universidade de Melbourne encontraram microplásticos do glitter em lodo de esgoto, e estudos mostram que podem prejudicar lagos e rios. A organização The Party Kit Network oferece orientações para montar kits de festa reutilizáveis e mantém um diretório global de locais para empréstimo desses kits.

Produtos de higiene oferecem alternativas sustentáveis
A cada minuto, 300 mil fraldas descartáveis são enviadas para aterros globalmente, segundo o Fórum Econômico Mundial. As fraldas contêm polímeros plásticos como polipropileno e polietileno para absorção e prevenção de vazamentos. Algumas estimativas indicam que uma fralda pode levar 400 anos para se decompor.
Mark Miodownik, professor de materiais da University College London, explica que fraldas são cerca de 40% plástico e “vão para aterros, oceanos, rios, ou são queimadas a céu aberto”. Embora algumas marcas ofereçam versões com menos plástico, elas ainda liberam metano quando se decompõem em aterros.
Fraldas laváveis representam uma opção, mas têm custo ambiental próprio devido à água e energia consumidas na lavagem. Miodownik sugere pensar fora da caixa: o desfralde precoce pode ser uma alternativa mais ecológica. Em países ricos, a idade média do desfralde está aumentando, prolongando a dependência de fraldas descartáveis.
Para produtos menstruais, Prince-Ruiz mudou para alternativas reutilizáveis durante seu segundo Plastic Free July. Calcinhas absorventes, copos menstruais e aplicadores de tampão reutilizáveis estão disponíveis como substitutos sustentáveis.
Criatividade na cozinha reduz embalagens

As embalagens representam quase 40% do lixo plástico mundial. Em vez de comprar lanches prontos, Prince-Ruiz exercita criatividade fazendo biscoitos caseiros. Sua receita simples consiste em fatiar baguete finamente, adicionar azeite e grelhar por alguns minutos.

Ela prepara granola usando ingredientes comprados sem embalagem em lojas a granel e faz caldo caseiro, guardando ossos e restos de vegetais no freezer. Cozinha feijões que compra sem embalagem, evitando alimentos enlatados que frequentemente são revestidos com camada plástica para prevenir oxidação do metal.

Bhavna Middha, pesquisadora da RMIT University focada em consumo sustentável, destaca que repensar hábitos como levar comida caseira para trabalho ou escola pode ter impacto positivo ambiental e na saúde. Um estudo que ela realizou descobriu que instalar micro-ondas no campus permitiu que pessoas comessem alimentos trazidos de casa.

Mudança cultural é fundamental
Middha acredita que mudança cultural em relação ao uso do plástico é necessária, em vez de colocar todo o ônus nos consumidores individuais. Viver totalmente sem plástico hoje não é possível, mas esse não é o objetivo principal.

“É sobre muitas pessoas fazendo pequenas mudanças que se somam para fazer diferença e criar mudança cultural, o que pressiona empresas e governo”, explica Prince-Ruiz, “em vez de apenas alguns adeptos do lixo zero sendo perfeitos”.

Essa abordagem reconhece que transformações individuais, quando multiplicadas por milhões de pessoas, podem influenciar políticas corporativas e governamentais. Cada pessoa que adota práticas mais sustentáveis contribui para normalizar comportamentos ecológicos na sociedade.
Pequenas ações geram grandes impactos

A redução do uso de plásticos no cotidiano demonstra como ações aparentemente pequenas podem ter consequências ambientais significativas. Desde escolher produtos com menos embalagens até reutilizar materiais criativamente, cada decisão contribui para diminuir a demanda por plásticos novos.

O movimento global para reduzir a poluição plástica ganha força quando indivíduos, empresas e governos trabalham em conjunto. Enquanto aguardamos acordos internacionais e mudanças estruturais, nossas escolhas diárias já fazem diferença no presente.
A transição para um estilo de vida com menos plástico não precisa ser radical ou perfeita. O importante é começar com mudanças viáveis e gradualmente incorporar novas práticas sustentáveis. Cada canudo reutilizado, cada embalagem evitada e cada produto caseiro preparado representa um passo em direção a um futuro mais sustentável.