Stockphoto.com / vichinterlang A prevenção deve ser feita para se diminuir os riscos e as consequências das catástrofes.

Vivem-se tempos difíceis. Em 2015, o Brasil foi vergonha no noticiário internacional. O desastre no distrito de Bento Ribeiro e na cidade de Mariana, no estado de Minas Gerais, causado pelo colapso das estruturas de contenção nas barragens de Fundão e Santarém, gerenciadas pela mineradora Samarco, foi um dos mais graves na história mundial. A lama tóxica, que seguiu pelo Rio Doce até o Oceano Atlântico, matou dezenas de espécies da flora e da fauna brasileira. Será preciso muitos anos de esforços intensos da natureza e do ser humano para que haja qualquer sinal de recuperação das áreas afetadas.

Neste exato momento, ao redor do mundo acontecem milhares de catástrofes. Elas são silenciosas para a maioria dos seres vivos, mas impactantes para a sobrevivência de muitos. Estas zonas de pós-catástrofes ou de degradação, abandono, com perda de valores ambientais, culturais e patrimoniais, são carentes de quase tudo. As condições são extremas e os governos são lentos, mas as soluções precisam ser imediatas. O planejamento contra as forças da natureza fornece possibilidades tênues. Mas a prevenção contra acidentes deve ser feita para se diminuir os riscos e as consequências.

Diante destas emergências, pergunta-se: qual o papel dos arquitetos e urbanistas? Bem, o planejamento arquitetônico possui um papel fundamental na busca de boas soluções para o atendimento imediato às famílias e ao restauro e reconstrução de suas comunidades devastadas.

Deve-se projetar pensando na saúde, no bem-estar, na recuperação emocional e no resgate da dignidade destas pessoas, dando a elas uma perspectiva de vida através de construções mais seguras, confortáveis, acessíveis, sustentáveis e com design de qualidade.

Eventos fomentam ações humanitárias

E existem bons exemplos de estudos e trabalhos realizados dentro e fora do Brasil que podem servir de inspiração àqueles que desejam ingressar neste serviço humanitário.

“Uma zona de desastre, onde tudo está perdido, oferece a oportunidade perfeita para arquitetos descobrirem, partindo do chão, o que a arquitetura realmente é.” – dito por Toyo Ito, na exposição na The Royal Institute of British Architects.

Stockphoto.com / yankane O arquiteto tem papel fundamental na hora de reconstruir as moradias atingidas pelas catástrofes.

Em 2011, em um evento promovido pelo SENAC/SP, foram apresentadas soluções em arquitetura e construção civil, resultado do trabalho de décadas. Elas tinham como objetivo a promoção, a transformação e revitalização, através da intervenção urbana, de bairros deteriorados. Outro bom exemplo vem do país vizinho. O MECANO, ou ‘módulo de emergência para catástrofes naturais’, foi apresentado por Alejandro Borrachia, em 2013, na Universidad de Morén, na Argentina. É um trabalho voltado para a moradia temporária e foi inspirado nas fortes chuvas e inundações na região de La Plata.

Também em 2013 houve o concurso ‘Design Recovery’ para a elaboração de projetos residenciais como soluções de áreas afetadas. Seguindo a mesma linha, teve-se o projeto da empresa australiana, Conrad Gargett Riddel, que ganhou o prêmio do concurso de ideias para abrigos de emergências apresentado na King George Square, em Brisbane, em 2012.

Internet também ajuda a divulgar bons projetos

Agora, pesquisando na internet, pode-se ver também que existem duas grandes ações práticas que se destacam por seus notáveis resultados. A primeira foi criada para ajudar as vítimas do furacão Katrina, que devastou áreas de Nova Orleans. A ‘Make it Right’, fundada pelo ator norte americano Brad Pitt, atuou, inicialmente, na área de Lower Ninth Ward, hoje considerada a área mais “verde” dos Estados Unidos. Diversos escritórios de arquitetura contribuíram com estes projetos. Um exemplo é o SEED, utilizando contêineres, placas solares e coletores de água.

A segunda ação notável, que pode ser citada aqui, partiu do arquiteto japonês Shigeru Ban. Na década de 1990 ele começou a estudar como materiais simples, como o papelão, poderiam ser utilizados na construção e reconstrução civil. Sua preocupação começou a ser voltada para ações de arquitetura emergencial, criando soluções ágeis para montagem de edificações temporárias ou permanentes para pessoas desabrigadas. Shigeru atuou no atendimento às vítimas em Ruanda, Vietnã, Turquia e no Sri Lanka, que sofreu com a ação do tsunami em 2004.

Neste ano, há a competição chamada ‘ASA International Design Competition 2016’, em Bangkok, na Tailândia, que traz como tema “o que é o básico?”. É interessante pensarmos que para algumas pessoas o básico é ter acesso às novas tecnologias, às grandes construções, à boa comida e aos objetos de luxo. É uma distorção de valores, pois, para muitos, ter acesso ao mínimo, como água, comida e uma moradia, seria o suficiente. Para as vítimas do desastre em Bento Ribeiro e Mariana o básico seria ter suas vidas de volta.

Depois deste episódio lamentável o que resta à população é pedir, com mais rigor, para que os órgãos de licenciamento e fiscalização estejam atentos à boa capacitação dos profissionais nas áreas técnicas atuantes e em futuras ocupações mais ordenadas e sustentáveis em todo o território. Tudo poderia ser resumido em dedicação, solidariedade e respeito.