Compre produtos sustentáveis. Compre produtos orgânicos. Compre produtos com certificado ISO 14.000. Compre, compre, compre e colabore com a sustentabilidade.

Escutamos isso o tempo todo e percebemos que na prática isto não ocorre com muita frequência. Mas, será que é só porque a população está desinformada? Ou não quer mesmo ser sustentável? Creio que não. Se compararmos os preços de produtos ditos sustentáveis (muitas vezes é só marketing verde), agora chamados eco-friendly, normalmente são muito caros e estão longe do alcance da população de menor poder aquisitivo. Por exemplo, uma alface orgânica, pode custar até três vezes o preço da comum e obviamente não será comprada pela população de baixa renda, que raramente tem acesso a frutas e verduras.

Muitos outros produtos sustentáveis estão longe da realidade econômica de boa parte dos cidadãos. Então, a sustentabilidade acaba se limitando a uma determinada classe social. Também é importante que este grupo mude suas práticas ambientais, já que possui muitas dificuldades em diminuir o consumo até por uma questão cultural. Mas estes itens considerados ecologicamente corretos não chegam a grande maioria da população, que por necessidade acaba consumindo produtos de baixa qualidade e poluentes. Exemplos: suco em garrafa de vidro é mais caro do que em uma de plástico; uma camiseta reciclada de garrafa pet é muito mais cara do que uma camiseta de poliéster, muitas vezes fabricada em outro país.

Então, fica complicado ser sustentável. Se a pessoa não tem como prover suas próprias necessidades básicas como poderá pensar no meio ambiente? Sendo assim, é preciso que as ações dos educadores ambientais sejam mais pautadas na realidade dos cidadãos de forma a colaborar para que estes cidadãos tenham acesso a esses produtos. Mas, como ter este acesso? Baixar os produtos sustentáveis é complicado, pois como não são muito comercializados ainda não há como diminuir o valor, isto acontecerá normalmente quando forem mais consumidos. Então, a questão é como fazer a população ter acesso a renda para que assim possa optar conscientemente pelos produtos sustentáveis, porque essa camada também tem direito e precisa consumir para sobreviver com qualidade.

O próprio problema ambiental pode ser a solução. Por exemplo, no caso do lixo, incentivar a reciclagem com a formação de cooperativas, de forma integrada com as empresas e governo, assim mais resíduos serão tratados e novos trabalhadores contratados. É preciso estimular a cobrança por políticas públicas para a geração de renda, com incentivo às empresas que possuem um plano de gestão ambiental, que praticam a logística reversa e que também pesquisam e elaboram práticas mais sustentáveis, como a redução do consumo de água. Outro ponto importante é qualificar a população para empreendimentos e atividades não poluentes.

Turismo e artesanato são opções, porém muitas outras atividades podem ser descobertas através de uma educação ambiental mais crítica, que perceba aquela população com um olhar mais criterioso e não generalizado, para assim conseguir, junto com os cidadãos, encontrar alternativas para que os serviços prestados oferecidos sejam realizados de forma sustentável, com o mínimo de impacto, mas que ofereçam uma remuneração digna e o trabalhador possa comprar produtos que não agridam ao meio ambiente e sem comprometer seu sustento. Pois, se não ligarmos a questão econômica do ser humano à questão ambiental, ou seja com uma boa qualidade de vida, o meio ambiente continuará sendo degradado, pois o instinto de sobrevivência continuará sempre falando mais alto e adquirir produtos sustentáveis se tornará um luxo para poucos e não contribuirá efetivamente para a sobrevivência de todas as espécies no Planeta Terra.

*Texto de Teresinha Almeida, Jornalista e Educadora Ambiental