Devolver à natureza o que veio da natureza.

Nossos ancestrais celebravam e viam o sangue menstrual como um símbolo de fertilidade. Hoje, mesmo sendo um processo natural do corpo da mulher, a menstruação ainda é vista como um tabu.

Plantar a lua consiste em usar o sangue menstrual para adubar a terra. É usar a matéria orgânica que seria desperdiçada para nutrir a terra. É um ritual antigo, praticado por nossos ancestrais, que voltou a ser colocado em prática recentemente na intenção de ressignificar a relação das mulheres com elas mesmas e com o seu ciclo, e de se conectar com a natureza.

Não há estudos feitos especificamente sobre isso, mas podemos olhar para a composição química do sangue menstrual e ver que algumas coisas fazem sentido. O sangue contém três macronutrientes vegetais primários: nitrogênio, fósforo e potássio. O nitrogênio é o responsável pela produção de novas células e tecidos, por isso, é muito importante para o crescimento das plantas. O potássio é responsável pelas reações enzimáticas e se associa também com a fotossíntese e a produção de carboidratos. O fósforo também estimula o crescimento e a formação de raízes e sementes, além de ser importante para a realização de atividades enzimáticas no interior das células. Ele e o potássio são os responsáveis por deixar suas plantas verdinhas.

Juliano Takeshi Fujita é técnico agrícola da Unisol-SP e Amater, e afirma que não há problema algum em jogar a mistura de água com sangue menstrual na terra. “Se for uma terra rica em húmus – adubo produzido por minhocas durante a compostagem de matéria orgânica, melhor ainda, pois a biorremediação a partir de bactérias e micro-organismos é o que há de mais atual para tratar grandes volumes de resíduos, dos mais diversos tipos”. Fujita trabalha com certificação orgânica participativa e economia solidária, e explica que o sangue rico em nutrientes será biodegradado, ou seja, destruído por organismos vivos presentes na terra e disponibilizado para as plantas. “Mesmo os resíduos de medicamentos e até solos contaminados de postos de gasolina são biorremediados assim”, justifica.

Portanto, se você cuida do seu jardim e é entusiasta do copo menstrual, pode tentar usar o próximo ciclo para ajudar suas plantas!

Colocando em prática

Para que seja possível coletar o líquido, é necessário que faça uso do coletor (copo) menstrual ou de calcinha absorvente. O sangue não deve ser colocado diretamente no solo, pois o fluido concentrado pode causar um odor desagradável à medida que seca, atraindo insetos. Esvazie seu copo menstrual em um recipiente e adicione meio litro de água. A quantidade é ideal para uma rega diária. No caso da calcinha absorvente, basta deixá-la de molho por, no máximo, 5 minutos e usar o líquido. Se o seu jardim for muito extenso, pode diluir em mais água.

Importante: não é recomendado guardar a mistura. Por conter fluido corporal, ela deve ser aplicada no mesmo dia.

Além de trazer benefícios para o seu jardim contribuindo para que as plantas tenham mais nutrientes, essa prática também nutre a relação das mulheres com seu ciclo menstrual. Isso é de suma importância, já que a sociedade nos ensina que a experiência natural e saudável da menstruação é desconfortável e vergonhosa. Usar algo de nós para alimentar algo da natureza, nos conecta a nós mesmas e à terra. O período menstrual é perfeito para focar no autocuidado e cuidar das suas plantas. É uma ótima união!

Fontes: Pixie Cup | Herself | BBC | Ecoabs