Pesquisadores de diversas partes do mundo publicaram artigo no número 559 da revista Nature de julho 2018, com o título “o futuro dos ecossistemas hiperdiversos”. Apontam para um iminente colapso global da biodiversidade, que poderá ser evitado se forem adotadas medidas urgentes para reverter a perda de espécies dos trópicos.

O estudo é o primeiro relato de alto nível sobre a situação dos quatro ecossistemas tropicais com mais diversidade no mundo: florestas tropicais, savanas, lagos e rios, e recifes de coral.
Os trópicos, embora cubram somente 40% do planeta, abrigam mais de três quartos das espécies de aves do mundo. Algumas destas aves não são encontradas em nenhuma outra parte e muitas ainda são desconhecidas pela ciência.

Nos ecossistemas tropicais, muitas espécies enfrentam vários perigos, como o desmatamento. São afetadas pelas pressões humanas locais, como a pesca excessiva ou a caça clandestina, submetidas à secas ou ondas de calor vinculadas às mudanças climáticas.

Muitas aves canoras ou aquelas de rara beleza estão em risco de extinção iminente devido a captura para o comércio. No Brasil, são incluídos o soldadinho do Araripe (Antilophia bokermanni) uma bela ave existente numa pequena área do Ceará e, que foi descoberta somente no final do século passado (1996), e o Tiête-de-coroa (Calyptura cristata) redescoberto em 1996 no estado do Rio de Janeiro e criticamente ameaçado; calcula-se que existam somente 50 indivíduos na natureza desse último.

A degradação dos ecossistemas tropicais também ameaça espécies raras, além das pessoas que são afetadas em seu bem-estar em todo o planeta. O bioma Mata Atlântica é um dos mais afetados pelo crescimento da urbanização e são inúmeras espécies, tanto de mamíferos como aves que estão ameaçados. Da onça-pintada no Nordeste restam poucos exemplares em áreas isoladas da caatinga e no leste da Bahia. A arara azul de Lear (Anodorhynchus leari) é uma espécie ameaçada devido ao tráfico de animais e à destruição de seu habitat restando pouco mais de 1000 exemplares na região do Raso da Catarina, no estado da Bahia.

O professor Jos Barlow, da Universidade de Lancaster, que liderou a pesquisa afirma que os recifes de coral, embora cubram somente 0,1% da superfície do oceano, proporcionam recursos pesqueiros e proteção costeira para até 200 milhões de pessoas. Segundo ele, os bosques tropicais úmidos e as savanas armazenam 40% do carbono da biosfera terrestre e contribui para a formação de chuva em algumas regiões agrícolas mais importantes do mundo.

No estudo, os pesquisadores indicam ações necessárias e urgentes que poderão diminuir a degradação desses importantes ecossistemas tropicais. Apelam para, que haja uma mudança radical nos esforços para apoiar o desenvolvimento sustentável e as intervenções de conservação efetivas para preservar e restaurar habitats tropicais.

Como a confirmar o risco apontado pela pesquisa, o World Resources Institute (WRI) publicou em seu site de monitoramento florestal, o Global Forest Watch, a tendência de desmatamento nas florestas tropicais. Os dados de 2017, sobre o Brasil indicam que o país apresentou sua segunda mais alta taxa de perda florestal com a diminuição de 45.000 km2. Os incêndios provocados para a expansão da área agrícola foram os maiores responsáveis pela destruição da floresta.

Além do Brasil, que historicamente sofreu com a alta taxa de perda de cobertura florestal, o conjunto de dados do WRI mostram a Colômbia e a República Democrática do Congo como zonas emergentes de perda de áreas florestais. No total, as florestas tropicais do mundo perderam 15,7 milhões de hectares de árvores no ano passado, uma área quase do tamanho de Bangladesh. Esse número indica que 2017 foi o segundo pior ano de perda de árvores tropicais já registrados por satélite.

A necessidade de conservação das florestas tropicais é reconhecida no âmbito científico, mas as florestas tropicais seguem desaparecendo. Por isso, é necessário que o manejo de grandes áreas florestais seja incluído nas políticas regionais e nacionais de desenvolvimento. Deter o desmatamento é vital para combater as mudanças climáticas; as florestas continuam a diminuir porque não tem nenhum valor nos cálculos econômicos, o que se deve ao desconhecimento e a pouca valorização dos serviços que prestam. Neste sentido, é fundamental consolidar iniciativas que se encaminhem para uma política de desmatamento zero, tanto no âmbito federal como nas outras esferas administrativas.