Clóvis Miranda Lábrea, cidade do Amazonas.

O mapa autêntico criado por pesquisadores da Universidade Autônoma de Barcelona analisou os conflitos ambientais existentes ao redor do mundo e constatou que o Brasil ocupa a 3ª posição (ao lado da Nigéria) no ranking de conflitos e atividades que colocam em risco a quantidade de recursos naturais do Planeta. O documento ainda aponta que a mineradora Vale integra o 5º lugar entre as empresas responsáveis por alguns destes conflitos. Especialistas relatam que os fenômenos têm relação com a demanda mundial de consumo das classes média e alta.

Dentre os 58 conflitos ambientais em curso pelo território brasileiro, existem disputas agrárias, como por exemplo, o caso de Lábrea, cidade do Amazonas localizada próxima à fronteira entre Rondônia e Acre, onde ocorre a ameaça de madeireiros e grileiros aos agricultores. Além disso, batalhas de indígenas e produtores rurais por apropriação de terras e recursos hídricos e reservas minerais somam a lista de fatores.

Em relação a Vale, 14 das 15 disputas em que a empresa está envolvida ocorrem na América Latina, especificamente no Brasil, embora países como Colômbia, Peru e Chile também se encontram relacionados. Moçambique (África) também é um dos países que apresenta impactos ambientais provocados pelas atividades da mineradora.

De acordo com o artigo do pesquisador da Fiocruz, Marcelo Firpo Porto, exibido na seção sobre o Brasil, os conflitos estão ligados à exploração de recursos naturais, como commodities (comércio de grãos), produtos manufaturados, expansão da agricultura, exploração do petróleo, construção de obra de infraestrutura, rodovias, pontes, geração de energia e etc.

A lista de problemas ambientais da EJOLT (Environmental Justice Organizations, Liabilities and Trade, um projeto europeu de organizações de direito ambiental), citada por Porto no artigo, ainda aponta que dentre as principais questões encontram-se empreendimentos como gasoduto Urucu-Coari-Manaus, da Petrobras; a usina hidroelétrica de Aimorés; a exploração de petróleo e gás em Coari, no Amazonas; e o complexo petroquímico de Itaboraí, no Rio de Janeiro.

Relação dos conflitos com a classe média e alta

O mapa foi publicado em março, em Bruxelas, pela Delegação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Em entrevista a BBC Brasil, Joan Martínez Alier, diretor do EJOLT, afirmou que “O mapa mostra como os conflitos ecológicos estão aumentando em todo o mundo, devido a demanda por materiais e energia da população mundial de classe média e alta”.

O documento ainda mostrou que as comunidades mais impactadas com os conflitos ecológicos são de baixa renda, frequentemente indígenas, que não têm poder político para ter acesso a justiça ambiental, nem aos sistemas de saúde.

Leah Temper, coordenadora do projeto, afirma que o mapa exibe tendências preocupantes, como a impunidade de companhias as quais cometem crimes ambientais ou a perseguição dos defensores do meio ambiente, entretanto, inspira esperança, pois houve casos de vitória na justiça ambiental.

O continente da América Latina foi representado com o maior número de conflitos relacionados à exploração de recursos, gestão de resíduos, biomassa, turismo, gestão de água, dentre outros. Os maiores números de casos colocados no mapa estão na Colômbia, com 72 casos; Argentina, 32; Peru, 31; e Chile, com 30 notificações. Veja os dados dos outros países no infográfico abaixo: