Os choques de aves contra aviões são considerados uma grande ameaça à segurança aeronáutica em todo o mundo. No Brasil a situação não é diferente. Duas colisões recentes ocorreram em menos de 30 dias.

No último dia 01 de abril, uma colisão com aves impediu a decolagem de um avião da Gol no aeroporto de Guararapes, em Recife, que seguiria para Congonhas, em São Paulo. Por medida de segurança, os passageiros tiveram que desembarcar para viajarem em outra aeronave. A pista de decolagem precisou ser fechada, temporariamente, para vistoria que confirmou a colisão e encontrou restos de aves, próximo à aeronave.

Neste ano ainda, em 07 de março, um avião da Latam precisou voltar ao aeroporto de Brasília após um pássaro entrar na turbina da aeronave. A viagem que seguia para São Paulo teve que ser abortada 30 minutos após a decolagem. Os passageiros foram transferidos para outro voo.

Os casos de colisões entre aves e aviões são cada vez mais frequentes e são motivo de grande preocupação global devido ao risco para a vida das pessoas e os custos financeiros envolvidos. Segundo o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos – CENIPA- as colisões com fauna trazem sérios problemas à aviação brasileira e contabilizam prejuízos que superam os 10 milhões de dólares anuais.

Os acidentes envolvendo aves e aeronaves crescem anualmente em nosso país. Em 2016 foram 2.198 colisões registradas, em 2017 chegaram a 2.203 e em 2018 atingiram 2.409. Entre abril de 2018 e o mesmo mês de 2019 foram registradas 2.222 ocorrências de Bird strike – como é chamado o choque de aviões com pássaros.

Embora o choque com aves pequenas seja mais frequente e não causem obstáculo para as manobras do piloto, as colisões com aves maiores – como urubus, garças ou carcarás – podem significar problemas muito mais sérios.

O caso extremo que ilustra a gravidade da situação ocorreu em 2009 quando o Airbus 320 teve que fazer uma aterrissagem de emergência no rio Hudson em Nova York, Estados Unidos, poucos minutos após a decolagem. Só não ocorreu uma catástrofe de maiores proporções graças à habilidade do piloto que salvou as vidas dos passageiros e tripulantes. O incidente foi provocado por gansos que paralisaram as turbinas.

Estatisticamente, somente 5% das colisões com pássaros provocam danos sérios nos aviões. No entanto, de acordo com as regras da aviação, quando há uma ocorrência de impacto entre uma ave e um avião, por precaução, a aeronave deve sair de operação para serem cuidadosamente inspecionadas, e no caso de sofrer algum dano, passar por manutenção. Os passageiros devem desembarcar e seguir viagem em outro voo com nova tripulação.

Sabendo que aves e aeronaves disputam o espaço aéreo, acidentes podem acontecer. O que se destaca, entretanto, é o aumento da frequência dos bird strike. Esses acidentes afetam a pontualidade dos voos e aumentam os custos das manutenções não programadas, além dos reparos eventuais. Além disso, o custo maior está relacionado com as paradas do avião que afetam o desenvolvimento de toda operação de voo e, consequentemente, a qualidade do serviço. Para se ter uma ideia do custo envolvido, a Avianca em 2018 gastou cerca de um milhão de dólares na manutenção de aeronaves devido ao impacto com animais.

Para combater essa ameaça de forma natural as administrações dos aeroportos utilizam um serviço de controle de fauna baseado em técnicas de falcoaria. Aves de rapina adestradas se encarregam de manter o espaço aéreo próximo às pistas, livre de aves. Outras medidas de segurança utilizadas incluem gravações com sons de aves predadoras, aparelhos de som que emitem fortes ruídos e drones, entre outros.

O problema é que os aeroportos são atrativos para as aves. São espaços enormes, verdes e relativamente vazios, rodeados por árvores e com o agravante de muitos terem depósitos de lixo nas proximidades.

De acordo com o estabelecido pela Organização Internacional de Aviação Civil Internacional – ICAO, em sua sigla em inglês, assim como os regulamentos aeronáuticos, os programas de mitigação de intervenção de fauna nos aeroportos são responsabilidade tanto das autoridades, como das concessionárias aeroportuárias.

Por sua vez o manejo dos resíduos só pode ser realizado pelas autoridades municipais. Esses depósitos de lixo próximos aos aeroportos constituem um grave perigo para a aviação por atraírem aves de grande porte como o urubu de cabeça preta (Coragyps atractus) e o gavião carcará (Caracara placus) que são a principais ameaças às aeronaves.

O trabalho realizado pela concessionária do aeroporto de Viracopos, em Campinas, é um exemplo de como uma parceria pode ser efetiva no combate ao acúmulo de lixo. Em 2018 ocorreram 65 colisões com aves nesse aeroporto, que mantém um programa de controle de fauna. O programa inclui a utilização de aves de rapina treinadas. Mas, a medida mais efetiva tem sido a realização de reuniões periódicas entre funcionários do aeroporto e da Prefeitura de Campinas com a participação da população local para combater os focos de atração de animais formados por descarte irregular de resíduos e de carcaças de animais domésticos e matadouros clandestinos.

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Doutor em Ciências Sociais e Mestre em Ciência Política pela UNICAMP. É especialista com pós-graduação em Ciências Ambientais pela USF. Foi professor e coordenador de curso em várias instituições de ensino, entre as quais: Mackenzie/SP, USF/SP, UNIP/SP, UNA/MG. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Teoria Sociológica, atuando principalmente nos seguintes temas: Administração, sustentabilidade, política pública, responsabilidade social, gestão ambiental, turismo. Recebeu em 2015 certificado de Menção Honrosa em reconhecimento à excelência da produção científica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Tem inúmeros livros publicados em sua área de atuação pelas Editoras Atlas, Pearson e Saraiva entre outras.