rvimages / iStock / Getty Images Plus A implementação da usina termelétrica em Peruíbe pode trazer diversas consequências negativas, assim como o desequilíbrio ambiental.

A Mata Atlântica, um dos mais importantes biomas do planeta, tem uma das suas áreas mais preservadas ameaçada por uma termelétrica que se intenta construir na região de Peruíbe. O local possui uma das maiores concentrações de porção contínua de vegetação preservada, sendo considerada uma das reservas naturais de maior diversidade genética do mundo. Sua importância foi reconhecida pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura), que a considera desde 1992 uma Reserva da Biosfera e, desde 1999, como Sítio do Patrimônio Histórico Natural da Humanidade.

A decisão de implantar uma usina termelétrica na região não faz nenhum sentido, pois se já não bastasse o erro histórico de se continuar investindo em fontes de energia baseadas em combustíveis fósseis que trazem inúmeras consequências negativas como gases efeito estufa, chuva ácida, desequilíbrio ambiental na região onde se instala entre outras, a área da pretendida para instalação é uma das mais protegidas da mata atlântica pela biodiversidade existente e pela multiplicidade de ecossistemas, entre os quais o de floresta tropical pluvial de encosta e de planície, manguezal, restinga, praia arenosa e costão rochoso.

A instalação da usina impactará várias unidades de proteção ambiental como: Área de Proteção Ambiental Cananéia-Iguape-Peruíbe; a Estação Ecológica Juréia-Itatins; o Parque Estadual da Serra do Mar; o Parque Estadual Xixová-Japuí, Área de Proteção Ambiental da Marinha entre outras. O município de Peruíbe tem sua área incluída em sete Unidades de Proteção Ambiental, ocupando mais de 50%. Cerca de 70% de seu território é ocupado por vegetação, o que confere ao município um alto índice de qualidade de vida.

O empreendimento pretendido ainda traz consequências da maior gravidade para inúmeras espécies ameaçadas de extinção entre as quais se destacam: a onça-pintada (Panthera onca), o Mono-carvoeiro (Brachyteles arachnoides), o papagaio da cara roxa (Amazona Brasiliensis); o jaó-do-litoral (Crypturellus noctivagus) e o Tauató pintado (Accipiter poliogaster). Recentemente foi avistada a raríssima borboleta transparente (Greta Oto) pouco conhecida pela ciência e mais encontrada na América Central. Sua presença é um forte indicador de boa qualidade ambiental.

Acrescente-se a essas espécies ameaçadas o registro feito pelo biólogo Bruno Lima da presença da Harpia (Harpia harpyja), também conhecida como gavião real, uma ave que está em situação extremamente crítica de extinção no Estado de São Paulo. O registro sonoro foi feito em 2012 e o pesquisador só o divulgou agora por temer pela sua sobrevivência em função da possiblidade de construção da termelétrica. Essa notícia, por si só, já seria suficiente para condenar a implantação da usina.

O processo de implementação do projeto da usina termelétrica tem ocorrido de forma bastante acelerado, o que causou estranheza ao Ministério Público que passou a investigar a licença ambiental. O Ibama, em São Paulo, se posicionou contrariamente ao projeto. Especialistas que tiveram acesso ao projeto da Gastrading Comercializadora de Energia, empresa interessada na construção da usina afirmam que os estudos omitem informações como os riscos à saúde da população e a degradação do meio ambiente.

Há inúmeros impactos negativos advindos da construção de usinas termelétricas que são provenientes das atividades de preparação do local, movimento de terras, drenagem, dragagem de áreas úmidas, desmatamento e construção de aterro sanitário.

Outro impacto importante das termelétricas se relaciona com a afluência de trabalhadores durante o período de construção. São necessários milhares de trabalhadores que durante alguns anos se estabelecem no local e, posteriormente, são reduzidos a centenas para a sua operação. O crescimento rápido e o desenvolvimento induzido podem gerar efeitos negativos importantes na infraestrutura existente no município. De qualquer modo, a afluência de trabalhadores de outras regiões mudará os modelos demográficos e alterará os valores socioculturais e os costumes de vida locais.

A mobilização da sociedade civil conseguiu fazer com que o governo federal decidisse revogar o decreto que extinguiria a reserva da região amazônica conhecida como Renca (Reserva Nacional do Cobre e Associados). Agora é uma importante área de Mata Atlântica que é ameaçada.

A expectativa é de que esforços regionais, nacionais e internacionais sejam feitos para barrar essa tentativa de instalar a obra prejudicial ao meio ambiente numa área considerada como paraíso ecológico, utilizada para pesquisa e preservação de espécies ameaçadas. O discurso desenvolvimentista que agride o meio ambiente não deve se sobrepor ao novo paradigma de desenvolvimento consagrado mundialmente, o desenvolvimento sustentável, que tem como um dos seus princípios fundamentais, suprir as necessidades atuais, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das gerações futuras.

Artigo anteriorQuais são os problemas de não descartar o lixo adequadamente?
Próximo artigoConheça os 17 objetivos do desenvolvimento sustentável da ONU
Doutor em Ciências Sociais e Mestre em Ciência Política pela UNICAMP. É especialista com pós-graduação em Ciências Ambientais pela USF. Foi professor e coordenador de curso em várias instituições de ensino, entre as quais: Mackenzie/SP, USF/SP, UNIP/SP, UNA/MG. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Teoria Sociológica, atuando principalmente nos seguintes temas: Administração, sustentabilidade, política pública, responsabilidade social, gestão ambiental, turismo. Recebeu em 2015 certificado de Menção Honrosa em reconhecimento à excelência da produção científica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Tem inúmeros livros publicados em sua área de atuação pelas Editoras Atlas, Pearson e Saraiva entre outras.