iStockphoto.com / Pilin_Petunyia A carne à venda pode ter como origem uma área desmatada ou desapropriação de território indígena.

Quando pensamos nos principais problemas enfrentados pela sociedade atual, o desmatamento certamente aparece em destaque, infelizmente. Em todo o mundo é comum ouvirmos notícias de que quilômetros e mais quilômetros de áreas nativas foram extintos em virtude da exploração humana, como para obtenção de madeira ou áreas de plantio. Todavia, outro problema também grave é a área desmatada para outra atividade humana que gera muita discussão: a pecuária.

No Brasil, somente nas últimas décadas, mais de 750.000 km² de floresta amazônica foram destruídas, sendo que 60% deste total teve como resultado a criação de pasto para gado. Muito do problema nacional, segundo recente relatório divulgado pelo Greenpeace, é fruto da falta de verificação das grandes redes de supermercados no que diz respeito à procedência da carne que adquirem e comercializam. Em muitos casos, a carne que está exposta no supermercado pode ter como origem uma área florestal que foi completamente desmatada e ainda atividades condenáveis, como trabalho escravo e desapropriação de território indígena.

Todavia, é importante que o consumidor saiba que algumas redes já se posicionaram e enviaram documentos ao Greenpeace sobre a procedência dos produtos que oferecem, como o Walmart (mais transparente de todas), Carrefour e o Pão de Açúcar.

Resultados do estudo

Segundo o relatório, mesmo com toda a colaboração das grandes redes, “nenhuma consegue garantir que 100% da carne que comercializa é livre de crimes socioambientais”. O Walmart apresentou 62% dos requisitos que a ONG considera como fundamentais. Já o Carrefour apresentou 23%, o Pão de Açúcar, 15% e o Cencosud, 3%. Para o Greenpeace, o mínimo estipulado para que uma rede seja classificada com o “patamar verde” é de 70% dos requisitos. Outros três supermercados do Grupo Pereira-Comper (localizados no Mato Grosso) e do Grupo DB (região amazônica) não enviaram qualquer resposta às solicitações feitas pelo Greenpeace.

“Eles podem impedir que a carne contaminada com a destruição da floresta chegue ao nosso prato e esta é a chance que os supermercados têm de fazer parte da solução, trazendo a proteção das florestas para o centro de suas políticas de compra de carne bovina”, afirma a ativista do Greenpeace no Brasil, Adriana Charoux, que também fez questão de afirmar que as grandes redes têm o poder de auxiliar o Brasil na redução da emissão dos gases do efeito estufa que são originados pelo desmatamento.

Em contrapartida dos resultados não tão satisfatórios, o Greenpeace divulgou que existem frigoríficos que trabalham desde 2009 para que o desmatamento seja reduzido a zero no país. “Os brasileiros têm o direito de saber se sua refeição está contribuindo com a destruição da Amazônia ou com a violação de direitos humanos”, complementou a ativista.

Campanha de conscientização

Aproveitando o momento de divulgação do relatório, o Greenpeace também organizou, em parceria com o Pão de Açúcar (em São Paulo), uma campanha de conscientização. Intitulada “Você sabe de onde vem esta carne?”, a ação consistia em adesivos colados nas bandejas de carnes que os consumidores olham e compram no dia a dia. A campanha também conseguiu coletar mais de 1,4 milhão de assinaturas em apoio ao projeto de lei “desmatamento zero” que foi apresentado em outubro no Congresso Nacional.

Além disso, outro ponto que não pode ser esquecido é que a produção de carne bovina, além de provocar o desmatamento de grandes áreas florestas, também impacta no consumo de água: é preciso 15.000 litros de água para produção de somente 1 kg de carne bovina.