Comemora-se, ou chora-se, no dia 21 de setembro o dia da árvore? Costumo dizer que o ser humano tem certa tendência a criar “dias” para tudo aquilo que ele destrói. Existe o Dia da Árvore, do Meio Ambiente, Dia do Índio, do Negro, da Mulher, da Camada de Ozônio, existe até dia do pai e da mãe. Seriam essas comemorações maneiras que o homem encontra para se sentir melhor ou para desvirtuar a real discussão?
Confesso que não gosto muito dessas datas, pois elas parecem que diminuem aquele determinado tema e não nos permitem fazer reflexões mais complexas sobre o assunto proposto. Mas de qualquer forma ainda não existe uma proposta mais efetiva, portanto elas pelo menos, e somente, servem para isso. Aproveitarei o dia 21 de setembro, Dia da Árvore no Brasil, para refletir sobre a importância de plantarmos árvores e ainda mais, plantarmos florestas. Talvez por trabalhar com isso, tenha já uma afeição por esse tipo de trabalho, mas é muito importante compartilhar razões muito significativas para investirmos nosso tempo e dinheiro nessa empreitada.
Infelizmente não posso comentar sobre a relação dos povos nativos com a floresta. Sabemos que era muito menos degradante, mas falarei aqui sobre a cultura que “venceu” e que, portanto, ocupa as páginas de nossos livros didáticos. O historiador Warren Dean, no livro “A Ferro e a Fogo: História da Devastação da Mata Atlântica Brasileira”, define muito bem a concepção marcante na época “A conservação dos recursos naturais iria mostrar-se irrelevante em uma sociedade na qual a conservação da vida humana era irrelevante”. Nem preciso dizer que a devastação prosseguiu até hoje. No Brasil essa mesma lógica invadiu a Amazônia, um pouco depois de deixar a Mata Atlântica com menos de 10% de sua cobertura original dividida em fragmentos, ou seja, incapaz de fornecer os mesmos serviços (ao homem) que outrora podia.
Costumo dizer que o ser humano tem certa tendência a criar “dias” para tudo aquilo que ele destrói. […] Seriam essas comemorações maneiras que o homem encontra para se sentir melhor ou para desvirtuar a real discussão?”
Trata-se, portanto, de inverter a lógica predominante. Bom, escrevo como se fosse simples, mas aos poucos alguns projetos e realidades vão mostrando que essa inversão é gradativa, mas sim possível. Em recente artigo publicado pela ONG Iniciativa Verde, o biólogo Magno Castelo Branco nos traz seu prognóstico, “Se não aumentarmos os esforços de recuperação da Mata Atlântica elegendo (e recuperando!) áreas prioritárias para a conectividade desses fragmentos e protegendo as espécies que aí vivem, as áreas restantes perderão em muito a sua capacidade de autoperpetuação frente à enorme pressão antrópica (derivada de atividades humanas) que sofrem atualmente”.
Criaremos, possivelmente, um cenário bastante desolador para um bioma que garante o abastecimento de água de 120 milhões de brasileiros, ou seja, 60% da população. O assunto é, caro leitor, majoritariamente de interesse humano. A recuperação de nascentes e matas ciliares é fundamental para a manutenção destes serviços ambientais essenciais para a perpetuação de nossa espécie, ou seja, ou entendemos isso ou estamos fadados ao fracasso.
Estima-se que em São Paulo existam mais de um milhão de hectares de mata ciliar para recuperação. Os dados da Secretaria de Meio Ambiente do Estado dizem que são 1,7 milhão. Isso quer dizer que apenas de matas ciliares temos trabalho para muitos anos e para muitos milhões, ou bilhões de reais. De acordo com custos de recuperação médios no estado, podemos estimar um mercado de aproximadamente 20 bilhões de reais. Se conseguirmos (e alguns já conseguimos) mensurar num futuro próximo o valor do carbono estocado, da água e do solo preservado, dos polinizadores atraídos, teremos um mercado ainda maior e possivelmente uma nova possibilidade de geração de empregos e renda. Quem sabe a lógica possa ser invertida pela economia, seria talvez a maneira mais fácil e viável. Mas ainda gostaria de ver uma mudança mais profunda, mas que comece sim pela viabilidade econômica da floresta.