A história da criação do Instituto Canto Vivo se confunde com a história de vida da restauradora de antiguidades, Cristiane Nogueira, 40, e do corretor de imóveis, Albino Fonseca, 41. O casal, preocupado com a ameaça de extinção de aves silvestres nas matas do estado de Sergipe, buscava uma maneira de intervir sobre uma realidade preocupante.
“Em 2001, no início do projeto, mobilizamos amigos e conhecidos para realizarmos o trabalho de reprodução e soltura de aves silvestres nas matas sergipanas. Foi daí que teve origem o nome da ONG, ‘Canto Vivo’ como uma referência à libertação das aves na natureza”, falou Fonseca ao Pensamento Verde.
Ainda como uma organização não formalizada, o Instituto Canto Vivo deu seus primeiros passo. Três anos depois de trabalhar com aves, os fundadores da organização perceberam que somente a soltura não era completamente eficaz devido à alta degradação da Mata Atlântica, habitat natural das espécies.
Então, a partir de 2004, o Instituto de Preservação da Natureza Canto Vivo foi oficializado como uma organização sem fins lucrativos. Com os primeiros projetos voltados à defesa da Mata Atlântica, a ONG concentrou suas ações principalmente nos estados de Sergipe, Bahia e Alagoas.
“No estado de Sergipe, existem poucas organizações que atuam com as questões ambientais. Então a ONG passou a ter destaque e ser referência no assunto em pouco tempo, três ou quatro anos. Nesse período, realizamos alguns projetos de arborização e paisagismo em empresas e organizações públicas do estado, inicialmente com projetos pequenos, tendo em conta a pouca estrutura para a produção de mudas de árvores para o plantio”, lembrou Fonseca.
De acordo com o idealizador do projeto, desde o início, as principais dificuldades encontradas são de ordem financeira. “Há uma dificuldade grande em conseguir financiamento para os projetos. De certo modo, isso impossibilita a expansão das ações além dos estados no Nordeste. Estamos tentando conseguir financiamento por meio de editais públicos e o principal desafio é conseguir recursos para a conquista de um espaço próprio, já que ainda não temos uma sede e utilizamos uma casa emprestada”, contou.
Em 11 anos dedicados à recuperação da Mata Atlântica, o Instituto Canto Vivo já plantou mais de 600 mil mudas, diversificadas em 110 espécies. Promoveu ações de conscientização com cerca de três mil crianças, e distribui mais de 300 mil sementes por ano para a arborização urbana.
ONG estimula o interessa da população na preservação das matas
Atualmente, a ONG desenvolve um trabalho permanente de distribuição de sementes de árvores, reprodução e distribuição de mudas, ações educativas de conscientização em escolas e comunidades, oficinas de reciclagem e projetos de recuperação da Mata Atlântica. “Acreditamos na importância e necessidade de estimular o interesse dos indivíduos em preservar e recuperar as matas, esclarecendo por meio de campanhas informativas, palestras e oficinas o papel de cada indivíduo”, disse Cristiane.
A restauradora lembra que plantar uma árvore é um ato muito simples, mas de grande valia para compensar o volume do desmatamento que aumenta a cada ano. “É por isso que nosso compromisso é conscientizar pessoa por pessoa sobre a necessidade de mobilização de cada indivíduo. O ato de entregar uma embalagem com sementes e instruções para o plantio, cumpre a função de reconstruir a forma de pensar o meio ambiente”, completou.
Em todas as nossas ações, a ONG distribui sementes de árvores da Mata Atlântica, como o ipê amarelo de jardim, aroeira vermelha, falso-pau-brasil e cedro.
Esforços são concentrados em ações de recuperação da Mata Atlântica e arborização de zonas urbanas
O reflorestamento da Serra de São José em Campo do Brito, região agreste de Sergipe, é a maior ação de recuperação da Mata Atlântica executada pela ONG. Desde 2009, após intensas queimadas ocorridas na região, o Canto Vivo deu início à recuperação da área, com o plantio de árvores nativas. Além disso, também foram realizadas ações de conscientização voltadas à população do município, que passou a atuar como parceira no reflorestamento da região, que ainda é assistida pela ONG que promove o acompanhamento periódico da situação do local.
A baixa arborização urbana é também um problema que afeta grande parte das cidades brasileiras. Há três anos, o Instituto Canto Vivo tem dedicado esforços em torno do problema. E, com o intuito de modificar o quadro de diminuição dos espaços verdes nas cidades, criou a campanha “Uma Floresta na Cidade”, que consiste em distribuir tags com sementes para a arborização urbana, em todas as ações que a ONG desenvolve – no Dia da Árvore, comemorado em 21 de setembro, a campanha recebe reforço especial, com a distribuição de sementes em vias públicas de algumas cidades.
Novo projeto prevê reflorestamento de áreas devastadas pelas queimadas
Há cerca de dois meses, brigadistas, voluntários e bombeiros trabalham intensamente para combater o fogo que não para de avançar na Chapada Diamantina. Os muitos focos de incêndio já queimaram cerca de 15% do parque. De acordo com Fonseca, a perspectiva para o primeiro semestre de 2016 é a execução do Projeto Skyforest Chapada Diamantina/Bahia.
A proposta consiste no reflorestamento de parte das áreas degradadas pelo fogo, utilizando a técnica seed balls (bolas de sementes, em tradução livre) – bolas de argila recheadas de sementes. O projeto contará com quatro etapas previstas: coleta de sementes (que foi realizada pela ONG entre novembro e dezembro de 2015), beneficiamento (limpeza das sementes coletadas), confecção das bombas e, por último, lançamento das bombas nas áreas escolhidas para o reflorestamento.