Essencial para a sobrevivência humana, dos seres vivos e natureza, a água, cobre cerca de ¾ do planeta, porém 97,3% das águas dos oceanos e 2,4% dos rios e lagos são impróprias para qualquer tipo de uso devido à poluição. Infelizmente, esse número só está aumentando e trazendo diversos malefícios ao meio ambiente.
Para tentar reverter a situação, o Brasil, um dos maiores produtores de cana-de-açúcar do mundo, planeja despoluir a água utilizando bagaço de cana. Somente entre 2015/2016 foram cultivados 655 milhões de toneladas do produto, porém após a extração do caldo, cerca de um terço do bagaço fica para trás.
A pesquisa está sendo realizada pelo Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano), ligado ao CNPEM – Centro Nacional de Pesquisas em Energias e materiais, onde foi descoberta que é possível produzir através da matéria-prima do bagaço, carvão ativo para a descontaminação da água e do ar. Esse processo é uma alternativa sustentável e bastante econômica, chegando a ser até 20% mais barato, e com a mesma eficiência que outros produtos importados encontrados no mercado.
O principal objetivo do estudo é aproveitar a maioria dos resíduos agroindustriais abundantes no país para aplicações ambientais. O pesquisador Diego Martinez, do LNNano, explicou ao site CNPEM: “O resíduo da indústria sucroalcooleira abre caminho para o desenvolvimento de um material avançado com propriedades antibacterianas quando associado a nanopartículas de prata, sendo um excelente material na remediação ambiental.”
O primeiro passo para a fabricação do produto é a queima completa do bagaço. Após isso, o carvão é misturado com reagentes químicos e submetido a um tratamento térmico. Os pequenos poros formados nessa transformação fazem com que os poluentes da água e do ar fiquem totalmente retidos.
Aqui no Brasil os carvões ativos são aplicados em grandes volumes para a remoção das impurezas da água. Por exemplo: para um município com 1 milhão de habitantes, é estimado que seja utilizada 1 tonelada de carvão ativo por dia para o tratamento da água. Segundo os pesquisadores do CNPEM, o carvão ativo produzido a partir do bagaço já tem maturidade suficiente e deve estar disponível no mercado em um prazo de cinco a dez anos.
Sustentabilidade e inovação
A pesquisa que está sendo desenvolvida, além de colaborar de forma positiva para um futuro muito mais sustentável e rentável ao resíduo gerado a partir de cana, também tem uma característica inovadora por estudar a possibilidade de utilizar nanopartículas de prata associadas ao material. Dentro da literatura essas nanopartículas são conhecidas por promover atividades relacionadas à sua capacidade de absorver os contaminantes dos carvões ativos.
Essa inovação ainda está em processos de análise pelos pesquisadores, para que eles possam entender melhor a relação estabelecida entre as nanopartículas da prata no carvão ativo de bagaço e o meio ambiente.