Após mais de 100 anos da invenção do avião, uma equipe de exploradores suíços apresentou uma ideia que promete fazer história: um avião que utiliza apenas luz solar como energia, chamado “Solar Impulse 2”. Um membro da equipe, o ex-piloto suíço André Borschberg, já fez voos experimentais e decolou no dia 9 de março para uma viagem entre Europa, Ásia e América do Norte.

Saindo de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, a equipe viajou até Omã e hoje está na Índia. Estão previstas ainda escalas em Mianmar, China e atravessar o Oceano Pacífico pelo Havaí, o que deve durar cinco dias. Depois, o avião cruzará os Estados Unidos, passará pelo Oceano Atlântico e fará outra escala no sul da Europa ou norte da África antes de voltar a Abu Dhabi.

National Geografic / Cortesia Solar Impulse A viagem começou em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos.

A viagem tem previsão de cinco meses de duração e o percurso será de 35 mil quilômetros. No caminho, Borschberg será substituído por outro membro da equipe, o piloto Bertrand Piccard responsável pelo primeiro voo de balão a gás ao redor do mundo, em 1999.

Para receber grande incidência da luz solar, o avião conta com vários painéis solares em suas asas, que medem 72 metros de envergadura, e na fuselagem. Dentro da aeronave existem quatro motores elétricos impulsionando o avião.

Segundo Piccard, “Este é o futuro. É uma outra maneira de pensar, de voar, para promover a sustentabilidade. Percorremos um longo caminho desde os irmãos Wright”. Aliás, a ideia do voo em um avião movido a energia solar surgiu justamente na aventura dentro do balão a gás, já que, por muitas vezes, Piccard e sua equipe ficaram à deriva e quase tiveram que abandonar o projeto. Foi então que ele procurou o Instituto Federal Suíço de Tecnologia e apresentou sua ideia de uma aeronave alimentada por energia solar. Pouco tempo depois o projeto foi aprovado e os testes iniciados sob a liderança de André Borschberg.

O projeto do avião movido a energia solar já tem mais de 10 anos e, neste período, muitas pessoas trabalharam para fazer tudo virar realidade. Borschberg conta com uma equipe de engenheiros e designers que trabalham em conjunto para conseguir o melhor resultado de aproveitamento entre o uso da energia solar e velocidade e estabilidade do avião. A ideia é evitar a fragilidade de muitos outros projetos desta mesma linha que não tiveram um final feliz. E como a viagem é longa, todo cuidado é necessário.

Imprevisto

Na passagem pela Índia, ocorreu um imprevisto que atrasou a viagem em três dias. O avião só decolou ontem, dia 18, de Ahmedabad em direção a Varanasi, também na Índia. Segundo Bertrand Piccard, a decolagem foi atrasada por problemas com as autorizações. O Solar Impulse 2 pousou em Ahmedabad no dia 10 de março e deveria ter partido no último domingo.

Imagem: BBC Rota do Solar Impulse 2 em sua volta ao mundo.

Desafio do avião movido a energia solar

Para os engenheiros da equipe, um dos principais desafios do avião movido a energia solar é o equilíbrio entre seu tamanho e peso, pois mesmo os mais avançados motores solares ainda deixam a desejar no quesito impulso (em relação aos motores a gasolina).

Para resolver o problema, a equipe decidiu por revestir toda a superfície do avião com mais de 17 mil células solares que possuem a grossura de um fio de cabelo humano e dão autonomia por até cinco dias e cinco noites, por meio de baterias de íons de lítio, que serão usadas para os voos noturnos. Já para economizar peso foram utilizados materiais mais leves para suportar o peso dos passageiros e também das baterias do avião (cada uma tem 235 quilos). Ao todo, o avião pesa apenas 2,3 toneladas.

Para Borschberg, “O mundo da aviação não tem a tecnologia para construir isso, por isso tivemos de trazer todas essas coisas juntas para fazê-lo. Entendemos a tecnologia como um todo e depois tentamos encontrar empresas especializadas que trabalham com a gente”.

A viagem será dividida entre períodos de seis a oito horas de voo em uma altitude superior a 28.000 pés (8.500 metros) da China para o Havaí, do Havaí para o Arizona e até Nova York, depois partindo para a Europa. Durante a noite, a aeronave descerá até 5.000 pés (1.500 metros) para economizar energia.

A velocidade máxima em que o avião poderá navegar é de 90 km/h ao nível do mar e de 140 km/h em sua altitude máxima.

Segurança durante a viagem

A segurança dos pilotos ficará a cargo de um centro de controle da missão, localizado em Mônaco, que irá monitorar condições atmosféricas, sinais vitais dos pilotos, entre outros detalhes. Este centro também contará com meteorologistas, especialistas em computação e equipe médica que irá auxiliar Borschberg e Piccard durante a viagem.

Dentro do avião movido a energia solar os pilotos terão suprimentos de oxigênio, bebidas energéticas e ainda barras de proteína para superar o desgaste. Também poderão utilizar roupas especiais para aquecimento e botas. O avião contará ainda com paraquedas e bote salva-vidas.

Os pilotos ainda pensam em utilizar técnicas alternativas para driblar o cansaço e vencer o desafio. Para Piccard, “A hipnose é simplesmente um outro tipo de exploração, exploração espiritual. Tudo isso, o voo, a energia limpa, hipnose, meditação, é tudo sobre a aprendizagem e tentar melhorar a vida neste planeta”.

Quem quiser acompanhar a viagem de perto, pode conferir o dia a dia da jornada no site www.solarimpulse.com.