Em um cenário global onde os cartões e maquininhas de pagamento são produzidos em quantidades cada vez maiores, o impacto ambiental do uso de plástico está aumentando consideravelmente. Essa realidade é ressaltada pelo estudo “Dinheiro Sem Plástico: Manifesto pelo fim dos cartões e maquininhas no mercado de pagamentos brasileiro”, conduzido pela agência O Mundo Queremos. Os resultados desse estudo mostram que a área ocupada por cartões e maquininhas dos últimos 10 anos no Brasil é equivalente a 20 vezes o tamanho do icônico Estádio Jornalista Mário Filho, popularmente conhecido como Maracanã, localizado no Rio de Janeiro. No ano passado apenas, o Brasil produziu 20 milhões de maquininhas, representando um aumento de quase 500% em relação ao total de 2012.
Apenas nos últimos dez anos, aproximadamente 450 milhões de cartões de débito e crédito foram emitidos no Brasil, além de 95 milhões de maquininhas de pagamento. Esse grande contingente, que representa mais de 15 mil toneladas de plástico no mercado, é equivalente a 14 vezes o peso do Cristo Redentor, de acordo com o relatório. Portanto, o documento enfatiza a urgência de implementar ações mais enérgicas para reduzir o uso de plástico no setor de pagamentos.
De acordo com informações do Banco Central, o Brasil possui um sistema bancário sofisticado, mas a produção desse sistema gera uma quantidade significativa de resíduos plásticos que frequentemente não são descartados ou reciclados corretamente. “Muitas vezes argumentam que eliminar o plástico é impraticável. Porém, quando uma grande empresa do setor decide adotar práticas mais sustentáveis, fica evidente que é possível eliminar o plástico utilizando a tecnologia existente, respeitando os usuários e mantendo a competitividade econômica. Se uma empresa pode fazer isso, isso significa que o sistema financeiro brasileiro também pode funcionar sem plástico”, afirmou Alexandre Mansur, diretor de projetos do Mundo Que Queremos, em uma entrevista exclusiva à EXAME ESG.
O relatório revela que os cartões de crédito, geralmente feitos de plástico PVC, podem levar mais de 600 anos para se decompor completamente. Os polímeros de plástico, as estruturas moleculares do material, podem ser encontrados nos oceanos e até mesmo no leite materno. A relação entre o consumo de plástico e doenças como câncer e outras condições de saúde também tem sido objeto de pesquisas.
De acordo com a Statista, uma fornecedora de dados de mercado, o número de cartões de débito, crédito e pré-pagos em circulação pode atingir quase 30 bilhões neste ano. Dados do Serasa mostram que cerca de 70% dos brasileiros possuem três ou mais cartões.
No entanto, para além dos cartões tradicionais, há outras formas de cartões em circulação, incluindo cartões de planos de saúde, chips de celular e bilhetes de ônibus. Focando especificamente nos cartões de crédito, se eles fossem alinhados, poderiam dar mais de uma volta ao redor do planeta Terra ao longo da linha do Equador.
Luis Silva, fundador e CEO da empresa de ecossistemas de pagamento CloudWalk e proprietário da InfinitePay, empresa que oferece opções inteligentes e digitais de pagamento, destaca: “Hoje discutimos como criar plásticos biodegradáveis para reduzir o impacto ambiental. No entanto, quando se trata do setor financeiro, podemos ir além de simplesmente eliminar o uso de plástico no ato de pagar. Através de dados e fatos, queremos demonstrar que é possível substituir o cartão de plástico e a maquininha pelo smartphone, um dispositivo que consumidores e comerciantes utilizam diariamente.”
Para lidar com o desafio do plástico no setor de pagamentos, o relatório propõe a eliminação gradual das maquininhas e dos cartões de plástico. Uma alternativa é o “Tap to Pay” (Toque para Pagar), que permite que os smartphones funcionem como maquininhas de crédito. O uso de cartões digitais também pode reduzir o consumo de plástico, uma tendência que está ganhando destaque nas empresas brasileiras, segundo o banco de investimentos UBS.
Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), os pagamentos por aproximação cresceram 187%, totalizando R$ 572,4 bilhões no ano passado. Para 2023, a expectativa é que os pagamentos por essa modalidade atinjam 60%.
Conscientizar, inovar e adotar alternativas mais sustentáveis é crucial para enfrentar o desafio do plástico no setor financeiro, garantindo um futuro mais limpo e saudável para todos.
Com informações da Exame.