Conheça Heliópolis, uma das maiores comunidades do Brasil que atua para ser referência em paz e educação

 

Cidade Nova Heliópolis, ou simplesmente Heliópolis, é praticamente uma cidade dentro da cidade. Com cerca de 200 mil moradores – apesar de o último Censo ter apontado 46 mil – a comunidade luta para que o bairro seja referência em paz e educação. Instalado em uma área de 2 milhões de metros quadrados, no Heliópolis tem de tudo: casas de alvenaria, avenida com comércio forte, vielas estreitas e, em meio a tudo isso, muito acesso à educação, arte, cultura e lazer.

Mas, se olharmos um pouco para trás, vemos que nem sempre foi assim. O bairro vizinho do Sacomã e de São Caetano do Sul, agrega histórias de lutas e conquistas, ao mesmo tempo que também coleciona episódios tristes. No passado, quando ainda era favela, chacinas e toque de recolher faziam parte da rotina da comunidade. Hoje, tudo não passa de lembranças, mas que deixaram marcas profundas em quem viu de perto a morte de amigos, parentes ou vizinhos. “Caçamba aqui não. Nós não gostamos de caçamba de lixo aqui no Heliópolis porque no passado elas eram usadas para recolher corpos”, diz Antonia Cleide Alves, presidente da Unas – União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região.

Hoje, os índices de violência do Heliópolis são bem menores. Da década de 1990 para cá os moradores passaram a se articular para dar um basta na violência e encontraram na educação e na união, o caminho para a tão desejada paz.

Educação como caminho para a evolução

Até a década de 1990 Heliópolis apresentava muitos problemas com a violência, mas um fato ocorrido em 1999 começou a dar um basta nisso. Naquele ano, uma aluna da EMEF Presidente Campos Salles foi assassinada a poucos metros da escola, quando voltava para casa e, consternada, a equipe escolar, em união com as lideranças locais, fez a primeira Caminhada pela Paz, que se tornou um evento que ocorre todos os anos.

Em 2002 outro acontecimento fez o então diretor da EMEF Presidente Campos Salles, Braz Nogueira, agir de forma inusitada: após um roubo de computadores de dentro do colégio, ele mandou derrubar o muro que separava a escola da comunidade. “Eu resolvi derrubar o muro porque entendi que não era ele que garantia a segurança da escola”, conta Braz, que hoje já está aposentado.

Braz conta ainda que após o ocorrido, ele foi para as ruas do Heliópolis, acompanhado por um dos líderes comunitários, e dizia às pessoas que os filhos deles haviam sido roubados. Dias depois, uma moto e um carro pararam diante dele na rua e um dos ocupantes do veículo disse que eles queriam devolver os computadores. Todos os equipamentos foram devolvidos e o muro derrubado.

Além do muro, as paredes internas das salas de aula também foram derrubadas e transformadas em grandes salões. Isso trouxe mais autonomia e uma forma completamente diferente de aprender, já que os alunos passaram a trabalhar em conjunto, sendo auxiliados pelos professores somente quando necessário.

Trabalho que não termina

Apesar de todo o progresso que o bairro educador atingiu, Cleide lembra que ainda existem alguns ‘muros’ para serem quebrados.

Em 2009 o governo do Estado inaugurou uma Escola Técnica Estadual (ETEC) no Heliópolis. Houve até uma maneira diferente de escolher os cursos, com a participação da comunidade opinando sobre quais cursos a escola deveria oferecer. Mas quando a unidade foi inaugurada, havia um problema: quase 80% dos alunos eram de bairros vizinhos. Isso acontecia porque os alunos do Heliópolis não tinham preparo ou não se sentiam capazes de passar na prova da ETEC. “A parede estava na nossa cabeça. Se a gente não se sentia capaz de concorrer a ETEC, como a gente ia ter coragem de concorrer a uma USP?”, diz Cleide.

Então, uma parceria entre a Unas e o CEU Heliópolis criou um cursinho preparatório, para que os jovens tivessem a mesma oportunidade de ingresso. “Hoje são praticamente 50% alunos da comunidade e 50% de outros bairros”, conta Douglas Cavalcante, Coordenador de Comunicação da Unas. “Todos os dias, pensando no bairro educador, a gente tenta quebrar esse paradigma, empoderando os jovens para que eles entendam que são capazes”, afirma Cleide.

Segundo a presidente da Unas, o bairro ainda carece de escolas e cursos que insiram os jovens de Heliópolis no mercado de trabalho, principalmente na área tecnológica. “Ainda falta muito para o encaminhamento dos jovens no primeiro emprego. Isso é uma brecha que ainda nos falta”, finaliza a presidente.

Parcerias que levam crescimento ao bairro

Em todos esses anos, muitas empresas passaram pelo Heliópolis levando ações que contribuíram (e ainda contribuem) para o desenvolvimento do bairro e de seus moradores. O Instituto Coca Cola Brasil é uma delas. Através de uma parceria com a Unas, a empresa leva aos jovens do bairro cursos preparatórios para o mercado de trabalho nas áreas de marketing e vendas, comunicação e tecnologia e eventos. São turmas de 80 jovens a cada dois meses.

O Facebook também fez uma parceria com a Unas para estimular o desenvolvimento do empreendedorismo na região. Desde 2015 o Facebook mantém um laboratório de inovação com computadores e acesso à internet, onde são aplicados cursos destinados a empreendedores e usuários da plataforma em geral. Nesta formação os participantes recebem treinamento com conceitos básicos de marketing digital, aprendem a criar e gerenciar páginas, além disso, recebem orientação sobre o desenvolvimento de conteúdo e como envolver os potenciais consumidores. O Facebook na Comunidade tem atualmente três cursos: Facebook para Negócios, Instagram para Negócios e Fotografia para Negócios. As aulas são gratuitas, com duração de três horas e certificado de participação. O público é formado por empreendedores com idade superior a 16 anos.

O Aquapolo, maior empreendimento para a produção de água de reúso industrial na América do Sul, é mais uma empresa que deseja contribuir com ações perenes na comunidade.

Após realizar algumas ações pontuais no bairro, com o Centro do Idoso e também promovendo concursos nas áreas audiovisual e ambiental, o Aquapolo está se mobilizando para desenvolver uma atividade contínua, que traga benefícios como geração de renda e empoderamento para os moradores do Heliópolis. “Recentemente nós contratamos uma consultoria para fazer um diagnóstico de todo o entorno do Aquapolo. Isso resultou em um trabalho baseado em entrevistas com várias lideranças e pessoas da comunidade, a partir disso, vamos formatar projetos contínuos”, explica o diretor geral do Aquapolo, Márcio da Silva José.

De acordo com o diretor, os projetos estão em fase de criação e terão como foco principal tanto a questão do gerenciamento de resíduos quanto à educação ambiental. “A ideia é que o Aquapolo ajude a construir esses projetos, mas que aos poucos vá se distanciando para que a própria comunidade seja dona deles e continue mantendo-os de forma autônoma”, finaliza.