O direito de ter acesso à água de qualidade está cada vez mais comprometido, diante da degradação dos rios brasileiros.
Relatório intitulado “O retrato da qualidade da água nas bacias da Mata Atlântica”, divulgado pela Fundação SOS Mata Atlântica, mostra que dos 278 pontos de coleta de água monitorados, 207 (74,5%) apresentam qualidade regular. Em 49 pontos (17,6%) a qualidade é ruim e, em 4 pontos (1,4%), péssima.
Somente 18 pontos (6,5%) apresentam qualidade boa na média do período de monitoramento e em nenhum dos rios e corpos d’água a qualidade é ótima. A avaliação péssima e ruim constatada em 19% dos pontos monitorados evidencia que 53 pontos estão em rios indisponíveis – com água imprópria para usos – por conta da poluição e da precária condição ambiental das suas bacias hidrográficas.
Os dados integram o projeto Observando os Rios, que conta com a participação de 3.500 voluntários que monitoraram 220 rios, de oito regiões hidrográficas do Brasil, entre março de 2018 e fevereiro de 2019.
A realidade dos rios brasileiros resulta de uma série de fatores, como agressões geradas por grandes desastres; o mau uso da água no dia a dia, decorrente da falta de saneamento; ocupação desordenada do solo nas cidades; falta de florestas e matas ciliares que protegem os rios e nascentes e por uso indiscriminado de fertilizantes químicos e agrotóxicos.
Reflexos da tragédia
Os rejeitos da barragem Córrego do Feijão, rompida no dia 25 de janeiro, em Brumadinho (MG), contaminaram o rio São Francisco, cujo a bacia hidrográfica equivale ao território da França, o que faz com que uma grande área dependa das suas águas.
Equipe da Fundação SOS Mata Atlântica revisitou a região até o Alto São Francisco, entre os dias 8 e 14 de março e, dos 12 pontos analisados, nove estavam com condição ruim e três regular, o que torna o trecho a partir do Reservatório de Retiro Baixo, entre os municípios de Felixlândia e Pompéu até o Reservatório de Três Marias, no Alto São Francisco, com água imprópria para uso da população.
Nestes pontos, a turbidez estava acima dos limites legais definidos pela Resolução 357 do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), para qualidade da água doce superficial. Em alguns locais, este indicador chegou a estar duas e seis vezes mais que o permitido pela resolução. As concentrações de ferro, manganês, cromo e cobre também estavam acima dos limites permitidos por lei.
No verde da esperança, a salvação
Nas áreas protegidas, de florestas e matas nativas são onde estão os rios avaliados com boas condições. Nos pontos considerados ruins e péssimos, o resultado vem de nascentes desprotegidas, margens de rios e áreas de manancial com o uso inadequado do solo e o desmatamento.
De acordo com relatório da Organização das Nações Unidas, em todo o mundo, o consumo de água aumenta cerca de 1% ao ano, desde a década de 1980. Até 2050, o uso de água pode elevar até 30% no planeta, por crescimento populacional, desenvolvimento socioeconômico e mudanças nos padrões de consumo. Mais de 2 bilhões de pessoas ainda não têm acesso à água potável e outros 4 bilhões vivem sem esgoto sanitário.
Todo esse cenário demonstra o quão urgente é a execução de ações voltadas à segurança hídrica, fundamental para as atividades humanas, saúde pública e equilíbrio dos ecossistemas.