iStockphoto.com / edsongrandisoli Pesquisa usou os critérios da lista vermelha de espécies ameaçadas de extinção da União Internacional de Conservação da Natureza.

Sempre que o Brasil é convidado para participar de encontros sobre mudanças climáticas e poluição ambiental, como a COP21, realizada em Paris, uma discussão vem à tona: o desmatamento da floresta amazônica. O motivo é bem simples: mesmo com a redução no ritmo de destruição, o desmatamento ainda é uma realidade tão preocupante quando o aquecimento global, por exemplo. Além disso, o mundo todo olha com apreensão para a lenta e agonizante devastação da maior floresta tropical de todo o planeta.

Outro fato que não pode ser deixado de lado, segundo estudo publicado na revista Science Advances, é que a floresta amazônica tem entre 36% e 57% de espécies de árvores ameaçadas. A pesquisa que contou com o trabalho de 158 pesquisadores de 21 países concluiu que 30% das árvores estão vulneráveis e 50% de fato já estão ameaçadas. O mais alarmante é que 80% se encontram em perigo real de extinção. Os critérios utilizados compreendem as classificações da União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN) sobre extinção das espécies e a pesquisa foi realizada entre 2009 e 2013.

Espécies representativas da maior floresta tropical do mundo, como a palmeiras do açaí, a castanheira e o cacaueiro, estão entre as árvores ameaçadas. Porém, a situação é ainda mais grave em relação a espécies mais raras e não tão numerosas. Também há preocupação sobre o ecossistema de uma maneira geral, assim como em relação ao clima do local. “Há muitos dados que não sabemos, por exemplo, quantas espécies de anfíbios, insetos, fungos, bactérias, etc.”, comentou o líder da pesquisa, Hans ter Steege, do Centro holandês de Biodiversidade Natural.

Há chances de salvação para as árvores da Amazônia?

iStockphoto.com / RicAguiar A palmeira do açaí é uma das espécies de árvores ameaçadas.

Segundo Steege, sim. “Ainda temos oportunidade de preservar. Não é para pensar que não podemos fazer nada, mas sim pressionar para isso ir para a direção certa”. Entre as alternativas possíveis, a utilização de territórios indígenas e a criação/manutenção de florestas nacionais (protegidas) é uma boa perspectiva, isto se não houver mais degradações até 2050.

“O pior desmatamento ocorre nas partes leste e sul da Amazônia, que devem perder 80% da cobertura vegetal e muitas espécies. Muitas pessoas na Europa acreditam que o desmatamento deve ser totalmente parado, mas a situação é mais complexa, pois há pessoas que retiram seu sustento e nós devastamos a Europa também. Por isso, acredito que a solução é proteger muito bem as áreas de preservação, como unidades de conservação, florestas nacionais”, alerta Steege.

Outro pesquisador do estudo, William Laurance, da James Cook University (Austrália), também é enfático sobre o desmatamento na Amazônia. “Ou nos mexemos e protegemos esses parques e reservas indígenas ou o desmatamento vai acabar com eles até vermos extinção em grande escala”.

Falta de planejamento e extração de madeira

Hans ter Steege aproveitou a divulgação da pesquisa para apontar quais devem ser os primeiros passos na luta contra o desmatamento na região. Segundo o pesquisador, é emergencial que todas as atividades ilegais na floresta sejam interrompidas, como extração de madeira e até mesmo mineração. Para Steege, o planejamento é essencial em todo este processo. “Se é inevitável o desmatamento por razões econômicas e para produzir alimentos, que seja o mais planejado possível”.