iStock.com / pabst_ell Cerca 100 toneladas de lixo são lançadas todos os dias na Baía de Guanabara.

Faltando menos de dois meses para abertura das Olimpíadas do Rio 2016, o governo carioca segue em ritmo acelerado com foco na conclusão das obras espalhadas por toda cidade. Tida, reconhecidamente, como um dos principais locais a receber provas olímpicas, a Baía de Guanabara é responsável por uma intensa série de debates e discussões a respeito da poluição, e que prometem se estender após o maior evento esportivo do planeta.

Depois de passar por alguns eventos-testes que avaliaram, sobretudo, a qualidade da água, muitas dúvidas sobre a real situação da baía permanecem e nenhuma posição convincente é dada pelo Comitê Olímpico Internacional, o COI (organizadores dos jogos). O que se sabe ao certo, é que, de fato, o local ainda está muito longe das condições ideais para prática dos esportes aquáticos.

A situação preocupa as delegações, que, nas próximas semanas, desembarcam no Rio e iniciam suas primeiras atividades preparatórias. Para falar sobre o assunto, o programa “Bate-papo Ponto Com”, da rádio MEC AM, convidou o ecologista, gestor ambiental e membro fundador do Movimento Baía Viva, Sérgio Ricardo.

O especialista começa a entrevista falando que o desafio da despoluição da Baía de Guanabara passa, necessariamente, por uma forte mobilização da sociedade. Mas essa mobilização ainda não aconteceu. “A população deve cobrar políticas públicas de diversas áreas: saneamento, tratamento do lixo, do reflorestamento, do controle industrial. Mas é importante também entender que a Baía tem um valor econômico e social muito importante e isso não foi levado em conta até o momento.”

Para se ter uma ideia, de acordo com informações do Inea (Instituto Estadual do Ambiente), cerca de 90 a 100 toneladas de lixo são lançadas todos os dias na Baía de Guanabara, isso sem considerar dias com fortes tempestades – quando a quantidade gerada é muito maior.

Os motivos da poluição na Baía de Guanabara

O ecologista destaca a solução, falando sobre o estilo de vida da população, que, segundo ele, favorece a poluição da baía. “Nós temos um modelo de desenvolvimento que é altamente predatório, nós vivemos num sistema do capital e a reprodução do capital se dá hoje explorando a natureza: a água, o solo. E a Baía é vítima desse modelo de desenvolvimento”, explica Sérgio Ricardo.

Pensando apenas na cidade do Rio de Janeiro, cerca de 200 rios e canais faziam parte de sua rede fluvial. Hoje, a grande maioria deles está aterrada e transformada em valões. O gestor ambiental vê na revalorização dos rios, praticada por parte da população carioca, fundamental importância para recuperação dos mananciais e resolução do problema de abastecimento da cidade.

A poluição não é um problema recente para a Baía e isto todos sabem. Um agravante desconhecido de muitos é o fato de grande parte da população de pescadores estar sem renda por conta dos grandes níveis de poluição que afetam não só a Baía de Guanabara, mas muitos outros pontos.

Possíveis soluções para virar o jogo

“É necessário que o Governo do Estado mobilize uma espécie de força tarefa para atuar na educação ambiental, mobilizar as prefeituras para avançar na coleta seletiva – nós quase não temos coleta seletiva na região metropolitana – e também tirar o lixo flutuante que está em grande volume na baía de Guanabara”, sgere o ambientalista.
Em seguida, Sergio Ricardo critica o governo por não elaborar um plano de despoluição em conjunto com as universidades públicas do Rio. E argumenta: “Quem mais conhece a Baía de Guanabara são as universidades públicas, os pescadores artesanais e os ecologistas, porém nunca foram convidados para opinar sobre quais as prioridades de investimento na chamada despoluição da Baía de Guanabara.”

Para o gestor ambiental, cerca de 10 bilhões de reais já foram gastos apenas com o PDBG (Programa de Despoluição da Baía de Guanabara, que já tem 25 anos de existência) e que, por obviedade, não foram aproveitados corretamente.

Já o ambientalista, conselheiro do CREA- RJ e professor universitário, Felipe Brasil, enfatiza: “Não existe despoluição se não houver controle de poluição das bacias de entorno, dos municípios, das indústrias. Porque o grande problema é que a Baía é o fim”, referindo-se aos termos geográficos, já que o local é o ponto de menor altitude das bacias drenantes da região.

O professor universitário conclui que para a resolução do problema deve haver priorização em uma série de iniciativas: foco na drenagem de águas pluviais, tratamento de esgoto sanitário e tratamento e coleta separada de fluentes industriais e contenção dos resíduos sólidos, para que não haja mais o vazamento de chorume e novos acidentes ambientais possam ser evitados – situação que elevaria potencialmente o problema.