Muitos rios que um dia eram repletos de peixes e nos quais se podiam nadar, hoje estão degradados devido à falta de saneamento em muitos locais e ao descarte incorreto de resíduos.

Não é cena incomum ver aglomerado de lixo nas calçadas, os chamados “pontos viciados”, que constantemente recebem resíduos irregularmente. Toda vez que chove, os detritos menores escoam e vão parar nos córregos. Esses dejetos aglutinados reduzem a capacidade de armazenamento dos rios, provocando enchentes.

Outra ação de impacto negativo é o despejo de óleo de cozinha no vaso sanitário ou na pia. Quando esses resíduos chegam aos rios, forma-se uma película que impede a entrada da luz e do oxigênio, causando a morte de espécies que constituem a base da cadeia alimentar. O problema estende-se à saúde pública, uma vez que o óleo utilizado para cozinhar leva junto o cheiro do alimento e, após virar uma pasta, atrai ratos, causadores de diversas doenças, como a leptospirose.

Mudar esse cenário está no simples gesto de descartar os resíduos corretamente, encaminhar para a reciclagem tudo o que for possível e em três outras ações: coletar, afastar e tratar os esgotos antes de lançá-los no rio.

Um relatório da Comissão Mundial de Águas, entidade internacional ligada à ONU (Organização das Nações Unidas), aponta que entre os 500 maiores rios do mundo, mais da metade enfrenta sérios problemas de poluição.

Brasil

Em terras brasileiras, a galeria pluvial, que vai direto para o rio, possui um número significativo de ligações de esgoto clandestinas. Uma das soluções para controlar a sujeira que vai parar nos corpos d’água seria instalar estações de tratamento dentro do próprio rio. Outra iniciativa essencial é aumentar a quantidade de esgoto tratado. No país, apenas 46% do esgoto coletado é de fato tratado e a universalização dos serviços de saneamento básico é projetada apenas para a década de 2060.

A estimativa reflete uma conta simples de investimentos, divulgada pela Confederação Nacional da Indústria. Enquanto o gasto necessário em infraestrutura é de R$ 21,6 bilhões por ano, o Brasil gastou apenas R$ 10,9 bilhões em 2017, sendo a terceira queda consecutiva de investimentos no setor. A projeção de pouco mais de 20 bilhões por ano para o setor faz parte do Plano Nacional de Saneamento Básico, aprovado pelo governo federal em 2013 e que estabeleceu diretrizes, metas e ações para o Brasil durante o período de 20 anos, com a universalização prevista para 2033. Além disso, o Brasil é signatário da agenda de desenvolvimento sustentável da ONU, que prevê a universalização até 2030.

O Rio Tietê é o caso mais emblemático quando se fala de poluição de rios brasileiros. Quando passa pela região metropolitana de São Paulo, ele recebe quase 400 toneladas de esgoto por dia. Com isso, só sobrevivem no seu leito organismos que não precisam de oxigênio, como certos tipos de bactérias e fungos.

Pelo mundo, algumas iniciativas para  despoluição de rios obtiveram êxito.

Exemplos

Após vinte anos e o equivalente a R$ 19 bilhões, o Rio Manzanares, em Madri, na Espanha, foi completamente transformado. A poluição e o tráfego de 200.000 carros e caminhões por dia em suas margens foram substituídos por 30.000 árvores em um parque de 42 quilômetros, com praia urbana, calçadão, ciclovia e pistas de skate. A criação de piscinões e o enterramento de partes da avenida em túneis colaboraram para a limpeza.

Em Portugal, os cidadãos pressionaram o governo para que o Rio Tejo fosse despoluído e o governo acelerou sua recuperação a partir de 2009, com o investimento de R$ 3,8 bilhões. Os trabalhos incluíram obras de saneamento e renovação da rede de águas e esgoto, pois os dejetos eram depositados diretamente no rio. Até golfinhos voltaram a aparecer.

Em 2015, poluentes despejados por uma empresa de celulose atingiram o Tejo e, em 2018, foram gastos 8 milhões de reais para limpar o fundo do rio. Após o episódio, o governo começou a rever as licenças de várias indústrias.

O Rio Tâmisa, de Londres,  foi considerado o rio mais sujo da Europa no século XIX. A situação começou a mudar na década de 60, quando um sistema de estações de tratamento removeu quase 100% dos esgotos lançados no rio, que hoje tem peixes vivendo em toda a sua extensão.

No Canadá, o Tâmisa de Ontário passa por um processo de revitalização desde 1947, quando surgiu a Upper Thames River Conservation Authority. A cada cinco anos o grupo produz boletins das condições ambientais de 28 sub-bacias hidrográficas. Quase metade do orçamento vem de recursos privados. Em 2000, o rio se tornou patrimônio do Canadá e símbolo da luta para proteger tartarugas ameaçadas de extinção.