O café nosso de cada dia corre riscos de não estar mais tão presente à nossa mesa. Pesquisa britânica aponta que o desmatamento e o aquecimento global podem extinguir 60% das espécies de café.

Segundo dois estudos do Royal Botanic Gardens de Kew, no Reino Unido, café arábica é classificado como ameaçado de extinção na natureza principalmente devido à mudança climática.

De acordo com a metodologia da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), foi a primeira vez que os pesquisadores analisaram o risco de extinção de todas as 124 espécies de café conhecidas. Desse total, 75 espécies compõem a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, sendo que 13 estão em perigo crítico de extinção, 40 em perigo e 22 são vulneráveis.

Além do desmatamento e das mudanças climáticas, a propagação de doenças e fungos patogênicos também ameaça o café. As conclusões são baseadas em mais de 20 anos de análises.

Café arábica

Entre os tipos de café ameaçados está o arábica, o mais consumido no mundo. De acordo com o Instituto de Pesquisa em Café, seu grão cresce em regiões frias com temporadas distintas de chuva e seca.

A lavoura sofre se houver geadas e a qualidade do café piora com clima muito quente. As plantas precisam de temperatura entre 15º C e 24º C ao longo do ano. O sabor dos grãos depende de noites frias.

O risco maior é para a versão selvagem dos pés de arábica, que contêm a carga genética necessária para produzir novos sabores e plantas mais resistentes.Os pesquisadores temem que mais de metade das espécies selvagens de café esteja extinta até 2088.

Cultivado em escala comercial, o grão arábica selvagem é o mais negociado no mercado mundial de café, mas, com a espécie ameaçada, os agricultores talvez sejam forçados, nas próximas décadas, a partirem para a variedade robusta (também chamada conilon), que é capaz de crescer em locais mais quentes, porém, detentora de sabor mais forte.

Café brasileiro

No Brasil, o maior exportador mundial de café, os produtores buscam alternativas para minimizar os riscos apontados pela pesquisa. Entre as medidas, está promover o plantio de mais árvores na mesma área para manter a produtividade.

Os estados de Minas Gerais e São Paulo, responsáveis por mais de 80% da produção de café arábica do país, já foram, no passado, locais ideais para o plantio, devido ao menor risco de temperaturas congelantes. Hoje, a maior ameaça é o calor extremo. A temperatura máxima subiu cerca de 3º C nas últimas duas décadas. Apenas dois dias consecutivos de temperatura acima de 34º C durante a florada são suficientes para desencadear a morte de flores.

O desmatamento e o aquecimento global colocam em risco não só o café que integra a nossa rotina, mas todas as espécies de plantas silvestres, principalmente as que desempenham papel importante na sustentabilidade do futuro do planeta.