Respirar ar puro no Cerrado, outrora uma certeza, está se tornando uma tarefa árdua, revela um recente estudo do Instituto Federal Goiano. A pesquisa identificou uma conexão preocupante entre a morte de líquens e a exposição ao glifosato, um herbicida utilizado para controlar o crescimento de plantas indesejadas.

O declínio dos líquens e a qualidade do ar

Os líquens, organismos formados por fungos e algas, desempenham um papel crucial como indicadores da qualidade do ar. A ausência desses organismos no Cerrado, especialmente em áreas de cultivo intensivo, é um alerta claro para a má qualidade do ar. A pesquisa, conduzida na Área de Preservação Permanente (APP) de Caiapônia, revelou que o glifosato impacta diretamente a saúde dos líquens, indicando uma correlação preocupante.

Deriva tóxica: contaminação além das fronteiras

Amostras coletadas no centro da APP, aparentemente distante da exposição direta ao glifosato, revelaram uma redução nas células vivas e um aumento proporcional nas células mortas nos líquens. Esse fenômeno é atribuído à deriva tóxica, um efeito que transporta agrotóxicos para áreas além do alvo da pulverização. A pulverização aérea, comum em Goiás, parece ser um vetor significativo dessa contaminação.

Fotossíntese comprometida:

Além da mortalidade de líquens, a pesquisa mostrou que o glifosato interfere no processo vital de fotossíntese desses organismos. A exposição a esse herbicida compromete a capacidade dos líquens de converter luz solar em energia química, essencial para a sobrevivência. Os resultados de testes de fluorescência indicaram uma notável redução na saúde das algas, responsáveis pela fotossíntese nos líquens.

Uma epidemia ambiental

O uso exacerbado de agrotóxicos, especialmente o glifosato, no Cerrado é uma realidade alarmante. O bioma responde por 73,5% do volume total desses produtos no Brasil, devido à expansão do cultivo de commodities. A resistência genética conferida aos cultivos transgênicos, como a soja Roundup Ready, tem impulsionado o aumento do uso do glifosato e de outros agrotóxicos, criando uma preocupante epidemia ambiental.

Um futuro incerto para o Glifosato

A discussão sobre a renovação da licença do glifosato na União Europeia intensifica-se, com interesses econômicos e ambientais em jogo. A Alemanha, berço do produto, posicionou-se contra a renovação, enquanto outros países estão divididos. A votação final em novembro decidirá o destino desse herbicida amplamente utilizado. A proibição do glifosato poderia forçar produtores brasileiros a buscar soluções ambientalmente sustentáveis para manter a aceitação de seus produtos na União Europeia.

A qualidade do ar no Cerrado está intrinsecamente ligada às práticas agrícolas. Este estudo destaca não apenas a urgência de reavaliar o uso de agrotóxicos, mas também a necessidade de abordagens sustentáveis que preservem não apenas a biodiversidade, mas também a saúde humana em um mundo interconectado. A contagem regressiva para o futuro do glifosato começou, e os resultados terão impacto além das fronteiras do Cerrado. Fiquemos atentos ao que está em jogo e às escolhas que moldarão o caminho à frente.

Com informações Mongabay.