© Depositphotos.com / ssuaphoto Ações de diferentes países para combater o uso de combustíveis poluentes mostra que a era das fontes renováveis está cada vez mais próxima.

O ano de 2017 poderá ser lembrado no futuro como o marco de início do fim da utilização dos combustíveis fósseis – carvão, petróleo e gás natural como fonte de energia. Governos, localidades e empresas vem adotando medidas visando a crescente substituição dessa forma tradicional de produção energética por outras menos poluentes.

O aumento da convicção global de que os combustíveis fósseis são uma das causas principais do aquecimento global, além de poluentes atmosféricos geradores de várias doenças, tem contribuído para a formação de opinião pública que pressiona os governos a adotarem medidas para a substituição dessa fonte de energia. A influência sobre os políticos supera, inclusive, a realizada por diversos interesses econômicos setoriais, como a indústria do petróleo e as montadoras e sua cadeia produtiva, que têm muito a perder.

É claro que o prazo para o fim da utilização dos combustíveis fósseis está estritamente relacionado com o desenvolvimento tecnológico, associado à produção de substitutos seguros e confiáveis. Nesse sentido, deverá ocorrer um processo de transição durante os próximos 20 a 50 anos, com aumento crescente do uso de formas alternativas de energia renovável. Isto provocará profundas mudanças na indústria e nos transportes.

Transportes mais focados na sustentabilidade

 

O que acontece no setor de transportes é emblemático. No mês de julho a multinacional sueca Volvo anunciou que, a partir de 2019, todos os veículos de modelo novo que produzirá serão 100% elétricos ou híbridos. Desse modo, a empresa, coloca um fim a mais de um século de combustão com base no petróleo e se converte na primeira empresa automobilística a dar esse passo histórico. A companhia, que é propriedade da chinesa Geely, anunciou que a estratégia será lançar cinco modelos elétricos no próximo ano. O objetivo da Volvo é estar à frente na corrida pelos automóveis elétricos, segmento dominado pela Tesla. Os executivos da empresa estimam produzir um milhão de automóveis elétricos em 2025.

No dia seguinte ao anúncio da Volvo, a França declarou que proibirá a venda de veículos a gasolina e a diesel a partir de 2040. O Reino Unido, em seguida, foi pelo mesmo caminho que os franceses, definindo o ano de 2040 como o limite para a venda de carros com combustão tradicional. A Noruega já havia anunciado que estabeleceu como objetivo só permitir a venda de automóveis elétricos e híbridos a partir de 2025.

Dando continuidade ao acordo assinado por inúmeros prefeitos em 2016, as municipalidades alemãs de Berlim, Bremen, Dresde, Essen, Frankfurt, Hamburgo, Hannover e outras estabeleceram a proibição da entrada de veículos a diesel já em 2017; Barcelona fará o mesmo em 2019; Paris em 2020 e Madri e a capital mexicana, em 2015.

A mudança global favorável aos veículos elétricos criará problemas para alguns setores, desde as indústrias petrolíferas prejudicadas pela queda na demanda de gasolina até os fabricantes de velas de ignição e de injeção de combustível, cujos produtos são dispensáveis nos carros elétricos.

Os fabricantes de automóveis já estão se adaptando à nova realidade. Além da Volvo, a BMW anunciou que fabricará uma versão elétrica de seu minicompacto no Reino Unido. A Toyota começará as vendas de seu carro elétrico em 2022 com um novo tipo de bateria que aumenta a autonomia do veículo e reduz o tempo de carregamento. A Nissan planeja que, em 2020, 20% de suas vendas na Europa sejam de carros elétricos.

Relatório produzido pela equipe de transportes da Bloomberg New Energy Finance (BNEF) revela que os veículos elétricos representarão 54% das vendas de carros de passeio em todo o mundo, até 2040. De cada 10 carros produzidos, mais da metade será de carros elétricos, o que representará uma economia de 8 milhões de barris de petróleo por dia.

A questão que se apresenta é que os elétricos poderão tomar o lugar dos veículos convencionais mais rapidamente do que o previsto pelos analistas, o que afetará profundamente o planejamento econômico de países petróleo-dependentes que não se prepararam para a nova era sem combustível fóssil. O Brasil, por exemplo, tem amplas condições de acelerar o processo de substituição desses combustíveis tradicionais nos transportes. As frotas de ônibus podem, num prazo relativamente curto, substituir o diesel por biodiesel, muito menos poluente. Os veículos de passeio, por sua vez, poderiam utilizar mais o álcool como combustível. Para tanto seriam necessárias políticas públicas estratégicas que visassem implementar ações voltadas para a eliminação da utilização de combustíveis fósseis nos próximos 50 anos.

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Doutor em Ciências Sociais e Mestre em Ciência Política pela UNICAMP. É especialista com pós-graduação em Ciências Ambientais pela USF. Foi professor e coordenador de curso em várias instituições de ensino, entre as quais: Mackenzie/SP, USF/SP, UNIP/SP, UNA/MG. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Teoria Sociológica, atuando principalmente nos seguintes temas: Administração, sustentabilidade, política pública, responsabilidade social, gestão ambiental, turismo. Recebeu em 2015 certificado de Menção Honrosa em reconhecimento à excelência da produção científica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Tem inúmeros livros publicados em sua área de atuação pelas Editoras Atlas, Pearson e Saraiva entre outras.