O excesso de resíduos plásticos está criando microorganismos capazes de degradá-lo.
Há milhões de anos, a evolução transformou micróbios em plantas, animais e humanos multicelulares. Agora, a evolução está transformando essas criaturas em algo igualmente notável: ambientalistas.
Parece estranho, mas é exatamente isso: um estudo da Chalmers University of Technology, na Suécia, apontou que os resíduos de plástico estão dando origem a um número crescente de micróbios produtores de enzimas que combatem a poluição. Essas enzimas, que podem degradar vários tipos de plástico, parecem estar evoluindo em resposta direta ao acúmulo de poluição por plástico, cuja quantidade aumentou de aproximadamente 2 milhões de toneladas por ano há 70 anos para aproximadamente 380 milhões de toneladas por ano hoje.
Cientistas que participaram da pesquisa encontraram evidências que sustentam o fato de que o potencial de degradação do plástico do microbioma global se correlaciona fortemente com as medições da poluição ambiental deste resíduo. Eles identificaram aproximadamente trinta mil enzimas com capacidade de degradar os 10 principais plásticos comerciais. Quase 60% delas estão em áreas altamente poluídas como o Mar Mediterrâneo e o Oceano Pacífico Sul. Além disso, outras, normalmente encontradas na terra, foram capazes de degradar ftalatos, que geralmente vazam durante a produção, descarte e reciclagem do plástico.
Tudo isso sugere que os micróbios continuam a desenvolver novos superpoderes de combate ao plástico em resposta ao ambiente imediato.
Esta é uma descoberta surpreendente que realmente ilustra a escala do problema porque, na verdade, além de pouco se saber sobre as enzimas que degradam o plástico, os cientistas não esperavam encontrar um número tão grande delas em tantos micróbios e habitats ambientais diferentes.
O próximo passo seria testar as enzimas mais promissoras em laboratório para investigar de perto suas propriedades e a taxa de degradação do plástico que podem atingir. A partir daí, seria possível criar comunidades microbianas com funções degradantes direcionadas para tipos específicos de polímeros.
A realidade e as possibilidades futuras
O processo natural de degradação do plástico é muito lento. Uma garrafa de plástico, por exemplo, pode ficar até 450 anos no meio ambiente antes de se degradar.
Atualmente, apenas 9% dos resíduos de plástico nos Estados Unidos são reciclados. No Brasil, esse número cai para pouco mais de 1%. Todos os anos, o mundo registra bilhões de dólares em perdas econômicas devido aos impactos negativos nas indústrias pesqueira, marítima e turística, sem contar as milhares de espécies de animais diretamente prejudicadas e pesada contribuição para a intensificação das mudanças climáticas que estamos vivendo.
Assim, a única solução para a crise do plástico é eliminar a criação de plástico virgem ou reduzi-la significativamente. Os pesquisadores têm esperança de que este estudo viabilize a possibilidade de comercialização das enzimas microbianas para uso na reciclagem. Se as empresas pudessem usar enzimas na reciclagem em seu processo produtivo, novos produtos poderiam ser feitos a partir dos antigos, reduzindo assim a demanda por plástico virgem e impulsionando a economia circular.
Fonte: Treehugger