iStockphoto.com / alexomelko Algumas espécieis já tiveram suas rotinas modificadas devido ao clima.

O aquecimento global provocado pelo acúmulo de gases tóxicos na atmosfera preocupa não somente especialistas, mas também pessoas comuns de todas as partes do mundo. O motivo é bem simples: tais mudanças climáticas, como o aumento da temperatura média do planeta, podem afetar diretamente a qualidade de vida das pessoas e diversos ecossistemas, espécies animais e vegetais e muito mais. Um exemplo claro pode ser observado nas comunidades de insetos.

Segundo pesquisadores da Universidade de Copenhague, em estudo com comunidades de insetos locais, a variação climática provocada pelo aumento da temperatura já tem influenciado diretamente o habitat natural e os meios de vida dos insetos. “À medida que a temperatura aumenta , vemos uma mudança correspondente na comunidade de insetos, pois eles se alimentam de uma espécie especifica de planta que vem se tornando cada vez mais escassa”, aleta um dos principais autores do estudo do Centro Geo Genetics, Philip Francis Thomsen.

A análise levou em conta o monitoramento de 1543 espécies diferentes de besouros e mariposas, o que corresponde a 42% de todas as mariposas 12% de todos os besouros da Dinamarca. Os pesquisadores observaram que espécies como o Gorgulho-Porca (Curculio nucum) e o Gorgulho-Bolota (Curculio Glandium) já tiveram suas rotinas modificadas devido ao clima. O primeiro grupo de insetos, por exemplo, só foi registrado na primeira metade do estudo, enquanto o Gorgulho-Bolota somente na segunda metade. A conclusão é que ambas as espécies estão se movendo para o norte do continente atrás de alimento.

“Estamos propensos a perder algumas espécies especializadas que estão migrando para o norte, mas novas espécies vão chegar a partir do sul. Esta tendência é teoricamente esperada, mas extremamente rara para se confirmar nas observações. Os insetos são frequentemente negligenciados e desprestigiados em estudos de longo prazo”, disse Peter Søgaard Jørgensen, outro autor do estudo do Centro de Macroecologia, Evolução e Clima.

Pesquisa de quase 20 anos

Ao longo de 18 anos (1992 – 2009), os pesquisadores conseguiram monitorar semanalmente as populações destas espécies. Todos os registros foram feitos durante a primavera, outono e verão, e utilizando uma armadilha que consiste em um foco de luz no telhado do Museu de História Natural da Dinamarca.

“O monitoramento ao longo dos anos, mesmo sem um propósito pré-definido, pode ser de valor incrível ao tentar compreender e prever a biodiversidade em um mundo em mudança. A pesquisa também ganhou força graças ao apoio de entusiastas muito comprometidos. Posso afirmar que sem estes indivíduos, seria basicamente um levantamento feito às cegas sobre a maioria das espécies na Dinamarca. O mesmo vale para outros países europeus, ou seja, esperamos que este estudo possa empurrar a natureza de monitoramento de volta à agenda política”, concluiu Thomsen.

Novas espécies observadas

Outro ponto interessante é que durante o estudo de Thomsen, sete espécies de mariposas e outras duas espécies de besouros foram registradas pela primeira vez na Dinamarca. Dentre os novos moradores do país, o “besouro multicolorido da senhora asiática” (Harmonia axyridis), está se espalhando rapidamente pelo território dinamarquês.

“Alguns insetos são muito móveis e apenas se alimentam de larvas, portanto não é raro encontrá-los em vários habitas naturais. No entanto, é impressionante a diversidade de espécies registada. Mesmo que o estudo esteja limitado somente a um local, não existe razão para acreditar que a tendência que vemos aqui seria diferente em outros locais”, afirmou Jørgensen.

E finaliza: “Os resultados confirmam que a mudança climática está afetando agora a biodiversidade. Não é algo que vai acontecer no futuro distante ou apenas se chegarmos a um aumento de temperatura de dois graus.”