Reprodução Ave é originária das florestas tropicais asiáticas.

Ao longo da história a caça predatória já levou à extinção diversas espécies de animais, principalmente aquelas que possuíam determinadas características que movimentavam o interesse de colecionadores ou de mercados paralelos em todo o mundo. Um exemplo claro deste problema é queda drástica na população de elefantes africanos devido à busca de marfim por caçados nos séculos XIX e XX, o que levou à redução no número de animais em todo o continente e à uma mobilização global na virada do milênio pelo fim deste crime ambiental.

Todavia, não são somente animais de grande porte que sofrem com caçadores. Chamada de Calau-de-capacete (Rhinoplax vigil), a ave pouco conhecida no Brasil é originária das florestas tropicais asiáticas e possui uma característica rara: parte de sua cabeça é formada por queratina, uma proteína com muita fibra que vai do bico do animal ao crânio, totalizando 11% do peso da ave. Estes verdadeiros capacetes são bem resistentes e utilizados em brigas por território entre os machos ou para retirada de insetos em árvores.

Os “fazendeiros da floresta” são animais que despertam o interesse do mercado chinês… Mais precisamente em relação ao crânio da ave, isso porque durante séculos o elmo do calau-de-capacete serviu como matéria-prima para artesãos chineses em trabalhos artísticos para famílias ricas e poderosas que admiravam (e continuam admirando) o material macio, sedoso ao toque e com coloração dourada presente na cabeça do animal.

Com isso, o mercado ilegal de caça só cresceu nos últimos anos. Somente entre 2012 e 2014, por exemplo, mais de 1000 elmos da ave foram confiscados na província de West Kalimantan, na Indonésia. Além disso, a pesquisadora Yokyok Hadiprakarsa afirma que mais de seis mil aves desta espécie sejam mortas anualmente em florestas ao leste da Ásia.

Problema mundial

Além do país mais populoso do mundo, o Japão também é um dos responsáveis pela entrada da ave na lista dos animais “quase ameaçados” de extinção. O material da cabeça do animal foi utilizado por vários anos na decoração de quimonos masculinos através de figuras chamadas de “netsuke” que são produzidas por artesãos através do material animal.

Além do oriente, a Europa também se aproveitou do material encontrado no elmo do Calau-de-capacete, principalmente na Inglaterra vitoriana, onde estes “netsukes” se tornaram importantes moedas de troca entre os comerciantes. “Há registros que mostram que o marfim de calau-de-capacete era presenteado aos generais japoneses (shoguns) no século XII”, afirma a curadora da seção japonesa no museu britânico de Londres, Noriku Tsuchiya.

“Infelizmente, por volta do início do século 20, o pássaro tornou-se muito raro por causa da caça, e hoje o comércio legal se restringe a um número limitado de antiguidades já certificadas”, acrescentou Tsuchiya.

Comércio ilegal e perigo de extinção

Mesmo sendo uma prática ilegal, a caça predatória do Calau-de-capacete é sustentada por um comércio que se mantém à margem da lei e que movimenta grandes quantidades de dinheiro. Estima-se que cada quilo de marfim do crânio da ave custe em torno de seis mil dólares (três vezes mais do que é pago pelo marfim de elefante), porém, mesmo assim, quase não há cobertura ou denúncia da imprensa sobre o problema.

Além dos caçadores, outro problema grave enfrentado pela espécie é a destruição de seu habitat natural. Segundo pesquisadores e dados revelados pelo governo de Bornéu e Sumatra, os dois países perdem 3% de suas áreas de mata nativa todos os anos. Todos estes aspectos (desmatamento e caça) são os responsáveis pela entrada da ave na lista de animais “quase ameaçados” de extinção.

O resultado disso é que hoje especialistas classificam o Calau-de-capacete na categoria espécie quase ameaçada. “A espécie precisa ser monitorada cuidadosamente caso haja mais aumentos nos índices de declínio”, afirma a ONG francesa International Union for Conservation of Nature (IUCN) em seu relatório.

Curiosidade sobre a espécie

O Calau-de-capacete também é um pássaro importante para várias culturas. Para a população nativa de Bornéu, por exemplo, a ave é vista como o elo entre a existência terrestre e a vida além da morte, pois é quem transporta as almas para outra dimensão como um mensageiro dos deuses. Também é visto como símbolo da fidelidade matrimonial.