Reprodução Neste local as pessoas bebiam mais refrigerante do que água, por conta do preço.

O problema do acesso à água potável é, infelizmente, uma realidade que ainda estamos distantes de resolver em âmbito global, sendo esta questão quase que uma exclusividade de países subdesenvolvidos. Faltam políticas governamentais, educação, investimentos privados e muitos outros fatores para promover o acesso à água limpa para milhões de pessoas.

Na contramão desta falta de acesso, uma aldeia remota no México está servindo como base-teste de um modelo que pode revolucionar o atual e preocupante cenário da sede mundial. Localizada na península de Yucatán, a aldeia de La Mancalona recebeu do MIT (Massachusetts Institute of Technology) um sistema de purificação de água que utiliza a energia solar como fonte principal de funcionamento. Este é o primeiro modelo instalado em todo o mundo.

Para conseguir purificar a água, o sistema conta com dois painéis solares fotovoltaicos que recebem energia do sol e alimentam um conjunto de bombas que filtram as substâncias que poluem a água, tudo isso através de membranas especialmente desenvolvidas para este trabalho. O sistema produz diariamente 1000 litros de água potável e tem capacidade de abastecer com tranquilidade os 450 moradores de La Mancalona.

Escolha do local

A aldeia mexicana de La Mancalona foi escolhida porque é um local que não possui fontes naturais de água limpa e também por estar localizada em ponto onde há grande incidência de sol durante todo o ano. Além disso, os técnicos do MIT observaram que os moradores da aldeia são agricultores de subsistência com muita habilidade e que poderiam facilmente operar o sistema de purificação de água.

“Quando você vive em uma área rural, você tem que fazer tudo sozinho. Quando há algo errado no local, você é o único que pode corrigir a situação, porque ninguém vai dirigir até uma aldeia no interior para ajudá-lo. Tudo isso tornou mais fácil para nós para treiná-los”, afirmou Huda Elassad, pesquisador do MIT ao site MIT News.

A aposta deu certo, tanto é verdade que a aldeia rapidamente se tornou em um modelo que até já faz negócios com a venda de água limpa para outras localidades. Somente após a instalação do sistema, os agricultores locais já geram receita de US $ 3.600 por ano. Boa parte desta quantia é investida na manutenção do sistema e o restante na própria comunidade rural. A expectativa para o futuro é começar a venda de água purificada para os turistas que passam pela aldeia.

Água limpa é mais cara do que refrigerante

Quando os pesquisadores do MIT analisavam os melhores locais para receber o sistema de purificação de água, um fato chamou a atenção de todos: a água potável é mais cara do que o refrigerante nesta região do México, portanto crianças, jovens, adultos e idosos bebiam litros e mais litros de refrigerante por dia ao invés de água limpa. Com isso, a expectativa é que a saúde das pessoas também melhore com o passar dos anos.

Para os pesquisadores do MIT, a possibilidade de instalar um sistema de fácil operação, que impulsione a economia e influencie na qualidade de vida das pessoas é uma prova cabal que o sistema de purificação de água funciona. O próximo passo é justamente ampliar a presença do sistema em outras localidades onde a água limpa é escassa e onde há potencial para captação de energia solar, inclusive em grandes cidades que sofrem com o mesmo problema da aldeia de La Mancalona.

Outra aplicação interessante para toda a sociedade é a utilização do sistema em escolas, hospitais e outros estabelecimentos com grande consumo e que precisam de acesso à água limpa e barata.