iStockphoto.com / abezikus Para estudiosos, contato com humanos faria os animais caírem mais fácil nas mãos de predadores.

Combinar turismo e ecologia e ainda contribuir para o desenvolvimento de localidades mais afastadas e que dependem do ecoturismo como principal fonte de sobrevivência parece um cenário perfeito, não é? Quem não se sente bem em visitar um paraíso natural e ter a consciência de que todo o dinheiro gasto na viagem será revertido para manter o local vivo e preserva o ecossistema? Porém, o que parece ser um conto de fadas na verdade pode ser um verdadeiro drama para milhares de espécies de animais.

Segundo pesquisadores em recente publicação na “Trends in Ecology & Evolution”, a interação entre turistas e vida selvagem pode colocar em risco a vida dos animais, mesmo em locais considerados aptos para o ecoturismo. Porém, mesmo assim o ecoturismo não para de crescer ao redor do planeta.

“Dados recentes mostraram que as áreas protegidas em todo o mundo recebem oito mil milhões de visitantes por ano. Isso é como se cada pessoa na Terra visitasse uma área protegida pelo menos uma vez por ano, o que nos faz olhar para uma maneira de pensar sobre possíveis efeitos de longo prazo do turismo baseado na natureza”, afirmou o autor do relatório, Daniel Blumstein, da Universidade da Califórnia.

O relatório que aponta que o ecoturismo pode ser prejudicial aos animais defende que a presença humana altera os hábitos deles, o que pode colocá-los em risco constante. “Quando os animais interagem com menos agressivamente com os seres humanos, eles podem baixar a guarda, porém podem se sentir mais ousados em outras situações e transferir esta ousadia aos predadores reais, aumentando assim o risco natural, pois não há tanto medo mais”, complementou Blumstein.

Comportamento humano x vida animal

As interações entre pessoas e animais podem levar à habituação de uma espécie. Levantamento de Blumstein aponta que raposas domesticadas são mais dóceis e têm menos medo, o que significa uma alteração significativa em termos evolutivos. Já peixes domesticados, por exemplo, também são menos sensíveis a predadores. Com isso, uma área destinada ao ecoturismo sem predadores naturais também pode deixar os animais mais ousados e sem medo de enfrentar um inimigo no futuro.

“Sabemos que os seres humanos são capazes de conduzir uma mudança fenotípica rápida em outras espécies. E mesmo uma pequena perturbação induzida pelo homem poderia afetar o comportamento ou a biologia da população de uma espécie e influenciar sua função na comunidade”, afirmou Blumstein.