Ingrid Araújo Fábio Mariz (FAUUSP), Skye Duncan (Departamento de Planejamento de Nova Iorque), Paulo Saldiva (FMUSP) e Reinaldo Canto (Moderador, Carta Capital).

Como criar cidades com design criativo e ainda favorecer a acessibilidade e qualidade de vida à população? Este foi o tema do 1º Fit Cities São Paulo, encontro de especialistas em arquitetura, urbanismo e saúde que discutiram sobre o desafio enfrentado pelas capitais populosas para facilitar a mobilidade urbana das pessoas e ainda reduzir a incidência de doenças crônicas como stress e obesidade.

Segundo a arquiteta Skye Duncan, do Departamento de Planejamento de Nova Iorque, a cidade americana conseguiu, em 11 anos, diminuir em 37% as fatalidades no trânsito, além de cair para 7% a menos o número de mortes por doenças contagiosas.

Todos esses avanços foram possíveis na megalópole dos EUA por conta das transformações na estrutura da cidade. Em 1985, o índice de mortes por cólera ou contato com esgoto a céu aberto representava 97%. Após desenvolvimento das técnicas de saneamento básico esta taxa caiu ainda mais. Entretanto, se por um lado esta porcentagem quase desapareceu, do outro, doenças como pressão alta, stress, infarto, obesidade e diabetes representam hoje 70% das mortes.

Um dos motivos que levou a ascensão das doenças crônicas entre os americanos está diretamente ligado à estrutura da área distrital da cidade, a qual ainda hoje possui 89% do planejamento voltado ao espaço para carros e apenas 11% aos pedestres. Com pouco espaço para se locomover e pelo conforto que o veículo oferece, a população criou o hábito de se deslocar sob quatro rodas, e isso, ao longo da década, desencadeou o sedentarismo e consequentemente, outras doenças.

De acordo com dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) sete milhões de pessoas no mundo são vítimas da poluição do ar causada por fatores externos (inalação de fumaça de carros e indústria) e internos (inalação de queima de carvão de forno a lenha). Para o professor Dr. Paulo Saldiva, chefe do Departamento de Patologia da USP, a poluição atmosférica – muito comum nas cidades – é responsável pela maioria dos casos de câncer de pulmão que afetam a população.

Planejamento da cidade interfere na saúde

Caio Pimenta – SPTuris São Paulo.

De acordo com Saldiva, um dos principais motivos que levam às mortes e doenças crônicas, além do barulho ensurdecedor dos automóveis, é a falta de relações afetivas. “As ruas e espaços públicos não têm sido aproveitados pelas pessoas como espaço para convivência. Além disso, a maioria delas se relaciona a maior parte do dia com colegas de trabalho e, raramente, se dispõem a conhecer pessoas novas em uma cidade que vive sob ameaças de assaltos e outras atrocidades. Isso gera índices de depressão e diversos tipos de câncer”, relatou.

A solução apresentada pelo professor para combater este problema está diretamente ligada à forma como a cidade está organizada. “As doenças não serão eliminadas com remédio, mas com políticas públicas que enxerguem a necessidade de manobras no planejamento urbano da cidade”, salienta.