iStock.com / raw206 Prática contamina os lençóis de água subterrânea e pode causar doenças graves.

O fracking é uma técnica aplicada à extração de gás e petróleo que consiste na injeção de água, areia e diversos produtos químicos em reservas subterrâneas de xisto betuminoso para fracionar as rochas e liberar combustível fóssil. Que essa técnica causa problemas ambientais é sobejamente conhecido. Agora, dois estudos realizados nos Estados Unidos e Canadá trazem novas evidências de impactos causados no lençol freático e na geração de abalos sísmicos.

O primeiro estudo, realizado pelos pesquisadores da Universidade de Stanford, Dominic DiGiulio e Rob Jackson, publicado no número de março da revista “Environmental Science & Technology”, demonstrou que as operações de fracking numa comunidade de Wyoming, EUA, contaminaram as fontes subterrâneas de água potável.

No relatório publicado no site da Universidade, os autores do estudo afirmam que a pesquisa indica um cenário de práticas inseguras incluindo o derramamento de fluídos de perfuração e produção que contém diesel e altas concentrações de produtos químicos que poluíram as fontes de água colocando em situação de risco toda a comunidade. Isto ocorre porque no processo de fracionamento hidráulico são injetados no solo misturas de produtos químicos potencialmente perigosos, como o benzeno e o xileno, que contaminam os lençóis de água subterrânea e retornam à superfície junto com grandes quantidades de águas residuais descartadas no processo.

Um segundo estudo publicado na mais recente edição da revista ”Seismological Research Letters y Desmogblog”, denominado “Fracionamento hidráulico e os abalos sísmicos na bacia sedimentar ocidental do Canadá” demonstrou o vínculo entre a técnica do fracking com os abalos sísmicos.

A pesquisa indica que embora se soubesse que a injeção nos poços subterrâneos de fracking pudesse causar deterioração ambiental, o problema é mais amplo pois fica claro que o procedimento como um todo da técnica está vinculado com tremores de até 3.0 na escala Richter.

De onde vem a prática de fracking?

O fracking é uma técnica difundida a partir dos Estados Unidos, país pioneiro na sua utilização. O sucesso econômico dessa técnica que possibilitou a exploração de recursos antes inalcançáveis, permitiu um formidável incremento das reservas de gás e petróleo e contribuiu para a redução do preço desses produtos no mercado internacional.

No entanto, como os estudos confirmam, o fracking gera um alto impacto ambiental, contaminando os recursos hídricos e potencializando a atividade sísmica. Além disso utiliza grandes quantidades de água, gerando enorme volume de águas residuais contendo produtos químicos tóxicos que, entre outras doenças, pode causar câncer.

Do ponto de vista social, as operações de fracionamento hidráulico prejudicam a qualidade de vida nas zonas rurais mais exploradas pela técnica, pois o fracking não envolve a exploração de um único poço em uma grande área como acontece na exploração tradicional de petróleo. O processo exige a perfuração de inúmeros poços, visto que os recursos se esgotam rapidamente. A perfuração constante resulta na consequente emissão de ruído e degradação ambiental.

Acrescente-se a tudo isso que a técnica produz gás metano (CH4) e outros gases que provocam o efeito estufa, contribuindo para o aquecimento global e as mudanças climáticas. O metano retém muito mais calor que o gás carbônico(CO2), sendo portanto mais nocivo ao meio ambiente. Nesse aspecto a utilização dessa técnica e os seus resultados contrariam frontalmente o acordo global contra as mudanças climáticas assinado recentemente pelo Brasil, pois persiste a intenção de utilização de combustíveis fósseis em detrimento de fontes mais renováveis.

A mobilização contra a utilização do fracking deve se intensificar, pois os seus defensores adotam o discurso da viabilidade econômica desconsiderando seus efeitos sociais e ambientais, o que, no momento de crise que o país atravessa, pode ampliar seus apoiadores. Uma das medidas mais efetivas é a aprovação de leis municipais proibindo a adoção da técnica no território local, pois além de conscientizar os cidadãos no processo de discussão, permite a participação da população na implementação da norma.