istock.com / htrnr Estima-se que a população atual dos cavalos selvagens seja de aproximadamente 200 exemplares.

Os cavalos são considerados animais belos, altivos e majestosos que existem há milhares de anos e ao longo dos séculos foram domesticados e se tornaram importantes parceiros do homem. Contudo, ainda hoje há cavalos selvagens que resistiram em compartilhar suas vidas com os humanos, evitando a domesticação e vivendo livremente na natureza como símbolo de força, garra e rebeldia.

No Brasil há cavalos selvagens que vivem em liberdade no Estado de Roraima. Eles vivem no Nordeste desse estado, num ecossistema de savanas que é conhecido como Lavrado e que está ameaçado pela expansão do agronegócio. Por habitarem essa região, os cavalos também são conhecidos como cavalos lavradeiros e vivem aos bandos nos municípios de Amajari, Uiramutã, Normandia e Pacaraima.

Os lavradeiros são descendentes de cavalos domésticos que fugiram dos colonizadores portugueses e espanhóis no século XVIII. Ao longo do tempo formaram bandos isolados de qualquer contato humano e, através da seleção natural, os animais mais fortes e adaptados sobreviveram, eliminando os genes desfavoráveis.

O processo de seleção natural tornou o lavradeiro um cavalo bastante singular, único em todo mundo. É um animal esperto, de porte elegante, mas pequeno, com 1,40 metro de altura, olhos grandes, pernas fortes, sendo muito resistentes e velozes (podem correr por 30 minutos a 60 km/h.). Os cavalos lavradeiros são altamente tolerantes a parasitas e a doenças como a anemia infecciosa, e isto decorre de um patrimônio genético formado ao longo de mais de 200 anos. Durante o período de seca, eles andam grandes distâncias para encontrar água e, na época das chuvas, chegam a ficar até quatro meses com os cascos dentro d’água. Vivem em liberdade, em bandos formados por um macho e cerca de 8 a 10 fêmeas. Muitos desses animais passam a vida sem qualquer contato com seres humanos.

Muitos cavalos lavradeiros vivem em regiões de difícil acesso e pouco habitadas, o que contribui para que alguns não tenham qualquer contato com seres humanos durante toda sua vida e mantenham suas características genéticas originais. Os poucos exemplares que ainda restam da espécie em estado selvagem estão submetidos a diversas ameaças diretamente relacionadas à expansão humana, como as queimadas, o desmatamento e o risco do cruzamento com outras raças de cavalos. Há relatos de fazendeiros caçando esses animais para eliminá-los e, assim, permitir a expansão da pecuária e do agronegócio. Estima-se que a população atual do lavradeiro seja de aproximadamente 200 exemplares puros, sem cruzamento com cavalos domesticados, vivendo em liberdade.

A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) mantém um programa de conservação de cavalos lavradeiros que monitora mais de 50 animais com o intuito de conservar suas características originais e manter sua variabilidade genética, que é resultado de muitos anos de seleção natural. O que mais desperta o interesse dos pesquisadores é o incrível desempenho físico do lavradeiro, sendo capaz de percorrer grandes distâncias em velocidade, alimentando-se de capim de baixa qualidade nutricional.

Embora seja considerado um símbolo do estado de Roraima, tendo sua imagem estampada em camisetas, ônibus e artesanatos locais, o cavalo lavradeiro não tem recebido a proteção necessária para ser preservado da extinção. Embora o ecossistema onde vive o animal, o Lavrado, seja único e que por si só deveria ser protegido, até o momento não existe na região nenhuma unidade de conservação integral estando virtualmente exposta à expansão agrícola predatória.

Neste cenário, para impedir a extinção do cavalo selvagem, torna-se urgente a criação de um sistema de monitoramento permanente dos bandos isolados restantes e a manutenção de seu isolamento para impedir a contaminação genética de animais domesticados.

A viabilização econômica do turismo de observação de cavalos poderia contribuir para a obtenção de renda a ser canalizada para a proteção dos animais, financiamento de pesquisas e o seu monitoramento.

Há um grande número de admiradores de cavalos em todo mundo, especialmente dos selvagens, pelo simbolismo associado à liberdade que desfrutam. Esses admiradores, que formam um contingente de alto poder aquisitivo, constituem uma potencial demanda ao turismo relacionado aos cavalos selvagens de Roraima.

Somente a mobilização da sociedade civil, pressionando as diversas esferas de governos — municipal, estadual e federal — poderá salvar o cavalo selvagem brasileiro da extinção. A proteção do animal através de legislação poderá contribuir para a sua preservação, assim como foi feito nos Estados Unidos, com lei criada em 1971 para proteger os famosos mustangs norte-americanos. Nesse aspecto, o estado de Roraima tem um papel fundamental, podendo tornar o lavradeiro o símbolo oficial do estado e, consequentemente, criar uma unidade de conservação específica para preservá-lo.

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Doutor em Ciências Sociais e Mestre em Ciência Política pela UNICAMP. É especialista com pós-graduação em Ciências Ambientais pela USF. Foi professor e coordenador de curso em várias instituições de ensino, entre as quais: Mackenzie/SP, USF/SP, UNIP/SP, UNA/MG. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Teoria Sociológica, atuando principalmente nos seguintes temas: Administração, sustentabilidade, política pública, responsabilidade social, gestão ambiental, turismo. Recebeu em 2015 certificado de Menção Honrosa em reconhecimento à excelência da produção científica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Tem inúmeros livros publicados em sua área de atuação pelas Editoras Atlas, Pearson e Saraiva entre outras.