Dentre as minhas pesquisas sobre mercado, encontrei um vídeo da ONG Story of Stuff que trata das águas engarrafadas e toda a discussão que isso pode suscitar. O vídeo chama-se “Story of Bottled Water” (veja o vídeo ao fim da matéria*) e levanta uma série de suspeitas sobre o comportamento incorreto de empresas envasadoras de água mineral e seus consumidores.

O vídeo acusa as companhias de refrigerante de “empurrar” suas águas minerais a consumidores que não demonstram qualquer consciência ecológica sobre o produto, além de apontar erros e dificuldades no reciclo das garrafas usualmente feitas de PET.

Os argumentos usados têm lógica. Diversos fatos são sabidamente verdadeiros. Mas não posso afirmar que tudo apresentado seja a absoluta verdade. Precisaria checar. Por isso prefiro tirar alguns conceitos para desenvolver o raciocínio desse artigo e – por que não? – suscitar discussões.

© Depositphotos.com / Boarding2Now Refrigerantes.

Minhas ideias

O tal vídeo vem de encontro a diversas ideias que defendo e contra outras que absolutamente não aceito.

Contras, primeiro: não nego o poder de comunicação (e alguma manipulação) de que dispõem as grandes corporações quando utilizam seus planos de mídia. Mas firmo pé na questão de que não há demanda se não há pré-disposição. A existência do Big Brother não é só culpa da Globo. Não fosse assim, todo e qualquer produto que tais empresas lançassem seriam sucesso de vendas. A história mostra que não é assim. Ao contrário, é até fácil montar uma enorme lista somente com os erros clássicos e consagrados dessas “bigs”. Evidente que ao lançar um produto, elas possuem acesso à comunicação e aos pontos de venda. Há o “boom” inicial, mas se o produto não atende o que o consumidor deseja, vai para o rol da fama inversa.

Agora, os prós: nunca entendi porque pessoas no Brasil (sobretudo nos grandes centros) consomem água em garrafa. E se essa garrafa for Perrier, Evian ou outra famosinha aí, a coisa assume ares de desgraça: enquanto o Brasil – abençoado por Deus – tem fontes e fontes de água natural e mineral de alta qualidade, a Europa sofre com água salinizada que tem o poder de formar crostas nos boxes. Daí a busca (e fama) por água mineral com marca.

Mas voltando: o Brasil possui uma água excelente e são muitas as cidades abastecidas por água encanada de qualidade. Pode parecer incrível, mas a oferta de empresas como Sabesp e outras é grande. Sendo assim, o que há de mal em consumi-la? Tem gosto? E os filtros, moringas e outras formas de tornar a água de torneira (mais) agradável. De volta à Europa, lá é costume oferecer água da casa nos restaurantes. A grande parte aceita e que eu saiba eles não enfrentam nenhuma epidemia por conta disso. Aqui, terra rica, é muito pouco usado.

Sempre há uma forma de tornar o ambientalmente correto em financeiramente viável. Mas falta aí – na minha visão – pouco interesse da empresa, parcimônia governamental e uma visão pouco prática das coisas nas ONGs ambientais. Essas últimas, como conhecedoras do assunto, poderiam se dedicar um pouco mais a pesquisas de viabilidade que, somadas à criatividade, poderiam tornar tudo isso um bom negócio.”

Aí eu faço a soma dos dois parágrafos: demanda! Demanda formada por ignorância, preconceito, falta de questionamento, falta de parar para pensar!!!

É claro que há muitos locais no Brasil que a água é de baixa qualidade. Mas aí estamos falando de regiões que não têm água encanada e que também não é de populações que consumam garrafas e garrafões.

Por isso é que defendo que existe demanda porque há uma receptividade antes. Aquela ideia de água fresquinha jorrando majestosamente da montanha direto para a garrafinha PET e que nesses vasos encontramos uma fonte inesgotável de saúde e bem estar é exatamente a que é usada por essas empresas. Estão erradas por isso? Não poderia dizer categoricamente que sim, até porque, como se diz, “realiza”: essa mesma pessoa que tem “sede” dessa fonte é colocada nesse cenário. Então ela se abaixa e – fazendo concha com as mãos – bebe diretamente do rio entre pedras. Acho que não, “né”? Ela quer isso na foto, no rótulo.

Situações como essa ilustram a questão da demanda e das endiabradas empresas que impõem (?) o que querem.

Ainda dá tempo

Esse último parágrafo não trata da velha questão que dá tempo de mudar o comportamento. Na verdade, dá. Mas o queria abordar, a reboque da questão da água engarrafada, é um tema que tem circulado na internet: a “farsa” das plantbottles ou a garrafa de planta. O que os protestos têm acusado é que essas garrafas são compostas de 30% de PET oriundo de cana de açúcar – ou seja, “verdes” – e o restante do tradicional petróleo. E que a disseminação dessa ideia “verde” pode fazer com que as pessoas acreditem que essa garrafa é absolutamente sustentável e que por isso não temos que nos preocupar com sua deposição de forma ambientalmente correta, pois a natureza cuidará “naturalmente” de sua decomposição.

Chego a concordar que é um risco, chego a concordar que a ideia é vendida com mais louros do que merece, mas no fundo entendo que o grande problema é a velha questão da viabilidade econômica no comportamento sustentável. Exemplo maior: latinhas de alumínio. Valem muito, fáceis de vender e por isso são buscadas com afinco por garimpeiros urbanos que – por exclusão social – fazem disso seu ganha-pão.

Sempre há uma forma de tornar o ambientalmente correto em financeiramente viável. Mas falta aí – na minha visão – pouco interesse da empresa, parcimônia governamental e uma visão pouco prática das coisas nas ONGs ambientais. Essas últimas, como conhecedoras do assunto, poderiam se dedicar um pouco mais a pesquisas de viabilidade que, somadas à criatividade, poderiam tornar tudo isso um bom negócio.

Espetada final na questão da viabilidade: vasinho feito de PET é muito bonitinho, mas não resolve o problema. Tem que ir além.

*Story of Bottled Water – Legenda em Português: