Cubatão
Cubatão. Foto: cubatao.sp.gov

Localizado a 40 Km da capital do estado de São Paulo, o município de Cubatão, que atualmente é visto como exemplo de planejamento e consciência socioambiental, já teve grandes problemas relacionados a poluição do meio ambiente.

Durante o início da década de 80 a cidade era mundialmente conhecida como “Vale da Morte”, sendo apontada pela ONU como o município mais poluído do mundo. O boom industrial que fez de Cubatão um dos polos industriais mais ricos do país, pagou um alto preço por não se preocupar e nem se resguardar quanto aos danos causados por toneladas de poluentes lançados no meio ambiente.

História

Durante o governo de Juscelino Kubitschek, década de 50, deu-se início a um processo acelerado de industrialização do Brasil e Cubatão, até então, era um paraíso verde. Cercada pela Mata Atlântica, a cidade era rica em recursos naturais e estava estrategicamente localizada: a apenas 40 km de São Paulo, maior berço econômico do país; e do Porto de Santos, o maior porto da América Latina, e por onde entram e saem grandes quantidades de mercadorias. Ou seja, um local perfeito para dar início ao grandioso centro industrial paulista.

Na década de 1960, Cubatão contava com 18 grandes indústrias, sendo uma refinaria, uma siderúrgica, sete de fertilizantes e nove de produtos químicos. A construção delas aconteceu de forma indevida e invasiva ao meio ambiente. Em 15 anos cerca de 60 Km² de Mata Atlântica havia sofrido a degradação, formando uma clareira que podia ser vista por quem descesse a Serra do Mar.

Contudo, os governantes da cidade, assim como os empresários, não se preocupavam em reverter a situação, uma vez que a poluição de Cubatão rendia bilhões ao ano, levando a cidade a ser uma das cinco maiores arrecadadoras de impostos do estado, cerca de 76 bilhões de cruzeiros. O município representava 2% de toda a exportação do país.

Vale da Morte

Cubatão
Morador de Cubatão observando a poluição em 1980. Foto: valor

O intenso volume que as indústrias trabalhavam, eliminando quantidades enormes de poluentes no ar e nos rios de forma descontrolada, começou a ter consequências catastróficas visíveis e preocupantes. Vale lembrar que a industrialização aconteceu antes da Lei de Controle de Poluição do Estado de São Paulo entrar em vigor (1976).

O ar de Cubatão no início dos anos 80 era denso, possuía cheiro e cor. Segundo dados da CETESB (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo), 30 mil toneladas de poluentes eram lançadas por mês no ar da cidade, peixes e pássaros sumiram da poluição de Cubatão, pois não havia condições naturais para sobreviverem e nem para se reproduzirem, mas o estado só começou a intervir quando os danos à saúde da população começaram a demonstrar números alarmantes.

Entre outubro de 1981 e abril de 1982, cerca 1.800 crianças nasceram na cidade, destas, 37 já nasceram mortas, outras apresentavam graves problemas neurológicos e anencefalia. Cubatão era líder em casos de problemas respiratórios no país.

A ONU alarmou o mundo sobre os problemas e consequências causados pela poluição do polo industrial, usando a cidade como exemplo a não ser seguido.

Recomeço

O governo do estado convocou a CETESB para que fizesse um mapeamento e estudo das causas da poluição na cidade litorânea, com isso, a partir de 1983 foi implantado um plano de recuperação ambiental. Governantes, industriais e população passaram a trabalhar em conjunto pela recuperação da saúde local. Em 1989 as 320 fontes poluentes que existiam na época já estavam controladas.

O plano de controle ambiental foi feito com medições constantes das emissões de poluentes no ar e do controle da despoluição dos rios, causados pelo despejo de substâncias tóxicas indevidas em grande escala, gerenciamento por conta do estado e investimento em maquinário moderno por conta das indústrias. Metas a serem seguidas e um planejamento rigoroso foram essenciais para que a situação fosse controlada, segundo arquivo da secretaria do meio ambiente do estado de São Paulo. Além do controle das emissões de poluentes, também foram feitos planos de recuperação da Mata Atlântica com o replantio da vegetação nativa.

Guará-vermelho
Guarás-vermelhos em mangue de Cubatão.
Foto: Divulgação/Prefeitura de Cubatão

A volta do guará-vermelho, pássaro típico da região, foi o marco de que a qualidade de vida voltava à cidade. Em 1992, durante a Eco 92, Cubatão foi apontada pela ONU como Símbolo de Recuperação Ambiental, tendo 98% do nível de poluentes controlados, e passou a ser exemplo em todo o mundo como a cidade que renasceu das sombras da poluição.

A cidade, no final dos anos 80, utilizou da Agenda 21 para recuperar a qualidade de vida socioambiental perdida com a poluição causada pelo polo industrial. A Agenda 21 é um método de planejamento que tem por objetivo construir sociedades sustentáveis, nela é possível mesclar a proteção ambiental, a justiça social e eficiência econômica. Por essa razão, mesmo hoje, livre da poluição, Cubatão consegue manter uma linha de produção acentuada e que gera milhões de reais todos os anos. Em 2011 Cubatão apresentou 100% de controle de poluentes.